quarta-feira, maio 25, 2011

Dia da Independência

Dia 20 de Maio tive o meu primeiro ordenado de auto-suficiência. 23 anos, 4 meses e uns 27 dias. Nada mau.

sábado, maio 14, 2011

Fantasia

A turbulência política dos últimos tempos tem-me deixado um pouco desconfiado da capacidade de discernimento da população portuguesa em geral. Alguns tópicos, como a ajuda externa, a intervenção do FMI e a actuação do actual governo dividem as opiniões de uma forma bastante "descompensada". Tirando o último tópico, em que cerca de 80% dos portugueses culpam José Sócrates pelos erros da governação, a verdade é que os portugueses se mostram completamente divididos em relação a alguns problemas que afectam o país. É que mesmo neste assunto da governação, apesar de culparem o primeiro-ministro, o PS continua a mostrar resistência nas sondagens.

A vitória do PS começa a parecer um cenário bastante provável, apesar de não se saber com quem é que se vão coligar para formar governo. A verdade é que se tornou muito difícil, para o cidadão comum, perceber o que é que as propostas do PS têm de errado. Quando o primeiro-ministro diz que quem não aposta na Educação (note-se que apostar significa investir, em politiquês) quer acabar com ela, é preciso ter alguns estudos e formação para perceber que não é bem assim. As medidas educativas (ou mesmo noutras áreas) não funcionam a duas velocidades, apenas podendo optar-se por atribuir fundos ou retira-los. Existe toda uma panóplia de modelos e estratégias que podem ser adoptadas. Mas o essencial é que a mensagem do PM é suficientemente simples para ser entendida: Quem não está por esta Educação está contra a Educação. Como se o actual estado de coisas fosse o único possível.

É claro que as "ferramentas mentais" necessárias para desmontar esta farsa não estão ao alcance de todos. David Justino, antigo ministro da Educação, descreveu, no seu livro "Difícil é Educá-los", algumas características dos alunos portugueses referindo-se, neste capítulo, aos resultados dos testes PISA (destaques meus):

Ainda que centrados sobre as disciplinas de Matemática e Português, esses problemas (presentes nos testes) tendem a identificar determinado tipo de aprendizagens que são extensíveis às restantes disciplinas.

Em primeiro lugar, destaca-se o facto de os alunos portugueses apresentarem melhores resultados nos saberes que exigem menor elaboração cognitiva, ou seja, onde se limitem a reproduzir conhecimentos, a aplicar procedimentos de carácter rotineiro e a recorrer a raciocínios simples. As dificuldades identificam-se ao nível da capacidade de desenvolver raciocínios mais complexos, na resolução de problemas, especialmente quando têm de aplicar os conhecimentos adquiridos a situações menos usuais.

Todos os estudos revelam que os alunos portugueses conseguem melhores resultados nos itens que testam os conhecimentos adquiridos, no domínio de procedimentos e na compreensão dos conceitos utilizados. Pelo contrário, as dificuldades surgem na compreensão de textos não narrativos, na interpretação e resolução de problemas matemáticos e na capacidade de raciocínio complexo, desde a análise à síntese ou ao raciocínio inferencial.

No caso da matemática, essas dificuldades aumentam quando se trata de questões relacionadas com a geometria e a visualização e o estudo das formas no espaço, ou no caso das fracções em comparação com os resultados obtidos com os números inteiros. A capacidade de abstracção é claramente mais reduzida.

Parece-me que esta manifesta falta de capacidade, para pensar os problemas com que o país se depara, pode vir a ser o principal entrave à regeneração da política portuguesa. Ainda que possa parecer uma minudência, este "defeito" português repetido milhares de vezes, durante décadas, pode levar à falta de critérios e de racionalidade necessários ao bom funcionamento da Democracia. Talvez isto explique a incapacidade de existir debate sério em Portugal (debater implica perceber a posição defendida pelos outros, colocando-nos na posição dos nossos adversários, algo que requer bastante capacidade de abstracção) e a propensão que os portugueses têm para a fantasia, levando-os mais para o "irrealismo" político do que para o idealismo propriamente dito.