quarta-feira, outubro 19, 2011

O desafio


Lorde britânico oferece 290 mil euros a quem evitar colapso do euro

Julgo que esta é a oportunidade ideal para os dois economistas, que defendem a saída de Portugal do euro, Pedro Arroja e João Ferreira do Amaral, mostrarem o que valem. Não tanto pelo prémio (que é bem chorudo), mas pela consagração internacional que as suas ideias teriam. As pessoas até poderiam começar a encarar esta hipótese de outra forma. Quem é que vai a jogo?

quinta-feira, setembro 22, 2011

Perfeição

Era capaz de trocar todos, incluíndo este, ou até este, por isto.



Medley: Je n'En Connais Pas La Fin / Hymne a l'amour (live from the Bataclan) Jeff Buckley
(R. Asso/M. Monnot/E.Piaf)
Both the songs were originally performed by Edith Piaf

I used to know a little square
So long ago, when I was small
All summer long it had a fair
Wonderful fair with swings and all
I used to love my little fair
And at the close of everyday

I could be found, dancing around
A merry-go-round that used to play:

"Ah, mon amour
A toi toujours
Dans tes grands yeux
Rien que nous deux"

All summer long my little fair
Made everyday like a holiday
Night after night it used to play
People came there from so far away
And everyone sang that little tune
All around the town you heard it played

Even Pepi from Napoli
He sang to Marie this serenade

[qui inizia Hymne a l'amour]
If the sun should tumble from the sky
If the sea should suddenly run dry
If you love me, really love me
Let it happen darling, I won't care

Shall I catch a shooting star
Shall I bring it where you are
If you want me to, I will. (I hope I get this right)
You can set me any task
I'll do anything you ask
If you'll only love me still

When at last, our life on earth is through
I will spend eternity with you
If you love me, really love me

Let it happen darling, I won't care


quarta-feira, maio 25, 2011

Dia da Independência

Dia 20 de Maio tive o meu primeiro ordenado de auto-suficiência. 23 anos, 4 meses e uns 27 dias. Nada mau.

sábado, maio 14, 2011

Fantasia

A turbulência política dos últimos tempos tem-me deixado um pouco desconfiado da capacidade de discernimento da população portuguesa em geral. Alguns tópicos, como a ajuda externa, a intervenção do FMI e a actuação do actual governo dividem as opiniões de uma forma bastante "descompensada". Tirando o último tópico, em que cerca de 80% dos portugueses culpam José Sócrates pelos erros da governação, a verdade é que os portugueses se mostram completamente divididos em relação a alguns problemas que afectam o país. É que mesmo neste assunto da governação, apesar de culparem o primeiro-ministro, o PS continua a mostrar resistência nas sondagens.

A vitória do PS começa a parecer um cenário bastante provável, apesar de não se saber com quem é que se vão coligar para formar governo. A verdade é que se tornou muito difícil, para o cidadão comum, perceber o que é que as propostas do PS têm de errado. Quando o primeiro-ministro diz que quem não aposta na Educação (note-se que apostar significa investir, em politiquês) quer acabar com ela, é preciso ter alguns estudos e formação para perceber que não é bem assim. As medidas educativas (ou mesmo noutras áreas) não funcionam a duas velocidades, apenas podendo optar-se por atribuir fundos ou retira-los. Existe toda uma panóplia de modelos e estratégias que podem ser adoptadas. Mas o essencial é que a mensagem do PM é suficientemente simples para ser entendida: Quem não está por esta Educação está contra a Educação. Como se o actual estado de coisas fosse o único possível.

É claro que as "ferramentas mentais" necessárias para desmontar esta farsa não estão ao alcance de todos. David Justino, antigo ministro da Educação, descreveu, no seu livro "Difícil é Educá-los", algumas características dos alunos portugueses referindo-se, neste capítulo, aos resultados dos testes PISA (destaques meus):

Ainda que centrados sobre as disciplinas de Matemática e Português, esses problemas (presentes nos testes) tendem a identificar determinado tipo de aprendizagens que são extensíveis às restantes disciplinas.

Em primeiro lugar, destaca-se o facto de os alunos portugueses apresentarem melhores resultados nos saberes que exigem menor elaboração cognitiva, ou seja, onde se limitem a reproduzir conhecimentos, a aplicar procedimentos de carácter rotineiro e a recorrer a raciocínios simples. As dificuldades identificam-se ao nível da capacidade de desenvolver raciocínios mais complexos, na resolução de problemas, especialmente quando têm de aplicar os conhecimentos adquiridos a situações menos usuais.

Todos os estudos revelam que os alunos portugueses conseguem melhores resultados nos itens que testam os conhecimentos adquiridos, no domínio de procedimentos e na compreensão dos conceitos utilizados. Pelo contrário, as dificuldades surgem na compreensão de textos não narrativos, na interpretação e resolução de problemas matemáticos e na capacidade de raciocínio complexo, desde a análise à síntese ou ao raciocínio inferencial.

No caso da matemática, essas dificuldades aumentam quando se trata de questões relacionadas com a geometria e a visualização e o estudo das formas no espaço, ou no caso das fracções em comparação com os resultados obtidos com os números inteiros. A capacidade de abstracção é claramente mais reduzida.

Parece-me que esta manifesta falta de capacidade, para pensar os problemas com que o país se depara, pode vir a ser o principal entrave à regeneração da política portuguesa. Ainda que possa parecer uma minudência, este "defeito" português repetido milhares de vezes, durante décadas, pode levar à falta de critérios e de racionalidade necessários ao bom funcionamento da Democracia. Talvez isto explique a incapacidade de existir debate sério em Portugal (debater implica perceber a posição defendida pelos outros, colocando-nos na posição dos nossos adversários, algo que requer bastante capacidade de abstracção) e a propensão que os portugueses têm para a fantasia, levando-os mais para o "irrealismo" político do que para o idealismo propriamente dito.


segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Uma Casa Portuguesa

Este texto é um absoluto clássico de 1984. E acaba por ser um retrato orwelliano à portuguesa:

Uma Casa Portuguesa

Um indivíduo anda aborrecido com o emprego que tem, ou precisa de emprego ou ambiciona, por razões óbvias, ganhar mais. As coisas correm-lhe cada vez pior e as empresas privadas não o querem. Esclarecidamente, o indivíduo pensa no Estado, a que supõe o dever de lhe dar uma ocupação e proventos compatíveis. Não encontra nada ou o que encontra não o satisfaz.

Deste fracasso o indivíduo retira a conclusão de que o Estado não cumpre cabalmente as suas funções. Os seus enormes talentos merecem com certeza ser usados e seriam com certeza usados por um Estado que se prezasse. O indivíduo concebe então o plano simples de consequir que o Estado reconheça a sua utilidade. Procura dentro de si sinais de distinção. Depressa descobre uma especialidade, um amor, uma causa. Digamos, por exemplo, a casa portuguesa.

A casa portuguesa típica, que lhe despertou sempre surtos de paixão, desaparece lentamente da paisagem. As câmaras não a protegem; a Fundação Gulbenkian ignora-a; o público despreza-a. A preservação da casa portuguesa constitui um interesse social, digno da atenção do Estado. Aliás, todos os interesses sociais são dignos da atenção do Estado. O indivíduo decide, portanto, persuadir o Estado a encarregá-lo de preservar a casa portuguesa, tão ameaçada pela incúria, por autarcas néscios e por emigrantes.

Convoca três amigos: dois arquitectos e um autoproclamado sociólogo, como ele convencidos da sua importância e carentes de uns dinheiros. Os quatro põem-se em campo. Trata-se de obter acesso a um ministro ou a um secretário de Estado, através de relações pessoais ou de influências partidárias. O ideal é escolhê-lo num departamento com objectivos tão etéreos e brumosos como a própria preservação da casa portuguesa: a Cultura, a Qualidade de Vida, a Família, o Ordenamento Territorial, a Paz nas Consciências. Em rigor, qualquer serve, mas estes apreciam em particular os projectos fantásticos.

Imaginemos que o indivíduo e os três amigos se apoderam do ministro da Cultura. Tal ministro, principalmente se, como com frequência sucede, é analfabeto ou quase, jamais se atreverá a manifestar indiferença seja pelo que for que se apresente como Cultura (com C grande). No «Botequim», Natália Correia vela. A esperteza reside em que tudo lhe pode ser apresentado como Cultura, até Natália Correia e a preservação da casa portuguesa. Intimidado, aflito, prevendo críticas devastadoras à sua relutância em preservar a casa portuguesa, o ministro rende-se. Discretamente, e supondo assim desembaraçar-se do sarilho, nomeia por despacho uma Comissão para a Preservação da Casa Portuguesa, com o indivíduo e os três amigos, que passam a receber a remuneração mensal de cento e cinquenta contos, para o chefe, e de cem cada, para os comparsas.

Ganhou-se a primeira batalha. O indivíduo adquiriu uma posição oficial. O próximo passo consiste em montar cerco ao gabinete do ministro para lhe subtrair «espaço», isto é instalações. Como preservar a casa portuguesa nos corredores ou nos cafés? Sem telefones? Sem um sítio para guardar papéis e atender pessoas? Os argumentos parecem racionais, a reivindicação justa. Comprometido no princípio, o ministro volta a render-se. A Comissão para a Preservação da Casa Portuguesa instala-se em duas assoalhadas, num canto obscuro do ministério.

Daí reclama telefones, um contínuo (para recados), uma escriturária-dactilógrafa e um técnico de terceira, destacados de outros serviços ou contratados de fresco entre familiares e indigentes. Como recusar pedidos tão lógicos e triviais? Existe a Comissão, existem duas assoalhadas; o resto segue-se. O trabalho vai, enfim, começar a sério.

A Comissão produz, após esforços esplêndidos, um documento de dezassete páginas com o título: «A Preservação da Casa Portuguesa: Vectores de uma Problemática, a Nível Urbano e Rural». Forte de semelhante obra, entra na matéria. Pouco a pouco, estende os seus tentáculos. Ocorre-lhe desde logo que os seus objectivos são interdepartamentais. A casa portuguesa também é da responsabilidade dos ministérios das Obras Públicas e Habitação, da Qualidade de Vida e dos Assuntos Sociais. A Comissão exige, por consequência, que se forme uma subcomissão com «representantes qualificados dessas áreas», e que se lhe atribuam os respectivos subsídios. Requisita, evidentemente, um carro para as tarefas de coordenação (e para ir a Sintra aos domingos). Mas não se esquece nem das autarquias, nem dos emigrantes. Cheios de zelo, os seus membros partem para a província, enquanto o chefe, com mais majestade, «se desloca» às colónias portuguesas no estrangeiro, com o objectivo de «manter o perfil» das nossas queridas aldeias.

Entretanto, o chefe já informou o ministro da impossibilidade física de prosseguir estas enérgicas actividades em duas meras assoalhadas. Em dura luta com várias direcções-gerais, institutos e gabinetes, a Comissão acaba por conquistar mais cinco e aumenta o seu pessoal de sete para vinte e sete. Chegou a altura de se ocupar da decisiva questão dos «contactos internacionais». A inutilidade notória do exercício, assegura que a Comissão brilhará. No Conselho da Europa, na UNESCO, em viagens diplomáticas à Assíria ou ao Daomé, o chefe e os sócios discutirão moções, aprovarão recomendações, estudarão acordos de intercâmbio, comerão jantares e tirarão retratos. O mundo ficará sabendo que Portugal, país civilizado, se preocupa com a preservação da casa portuguesa. O orçamento da Comissão subiu de três mil contos por ano para cinquenta mil, o que a torna uma coisa digna de respeito e, pelo menos, de uma condecoração da Embaixada Francesa.

A Comissão, porém, é precária. Não tem lei orgânica e não tem quadro. Acima de tudo, não tem quadro. Os seus membros e empregados vivem no risco de despedimento, o que compreensivelmente os perturba, impedindo-os de trabalhar como gostariam. Para eles, os seus inestimáveis serviços justificam, mais, clamam, que lhes seja concedida segurança e aposentadoria. O ministro da Cultura entende esta angústia, porque aprecia que os seus subordinados o estimem. O ministro das Finanças, que não entra no ministério da Cultura, não se comove tanto. Mas é-lhe explicado o alcance da preservação da casa portuguesa, a sua indispensabilidade, o prestígio que a Comissão adquiriu em Bogotá e em Munique, e ele contrariadamente cede.

A Comissão transforma-se, deste modo, em Instituto papa a Preservação da Casa Portuguesa, com um quadro de oitenta lugares, sendo cinquenta instantaneamente preenchidos. Muda de instalações, recruta telefonistas, motoristas, contínuos, técnicos, conselheiros, assessores. Gasta agora duzentos mil contos. O chefe inscreve-se no PSD e fala-se discretamente dele para secretário de Estado, em parte por causa de um livro de excessivo mérito chamado «A Preservação da Casa Portuguesa: Vectores de Uma Problemática, a Nível Urbano e Rural».

A moral da história é a seguinte: se amanhã desaparecessem duzentos mil funcionários públicos, ninguém, excepto os próprios, daria por nada. Ou daria - daria porque pagava metade dos impostos.

Vasco Púlido Valente



quinta-feira, fevereiro 03, 2011

O grande crime de Cavaco é:



Não ser de Esquerda.