terça-feira, setembro 30, 2008

Aberração

Os comentadores políticos da praça estão aparvalhados. Diz que não há disciplina de voto nos «States». Diz que lá os representantes podem votar no que lhes apetecer. Diz que a maioria desrespeitou as directivas da Casa Branca e dos seus representantes partidários. Em terras lusas, tal feito é aberrante. Parece que a democracia (moderna) mais antiga do mundo deu uma lição de moral aos que dela tanto desdenham.

domingo, setembro 21, 2008

Liberalismo Económico II

O Tiago Laranjeiro aconselhou-me um post do Pedro Arroja no Portugal Contemporâneo:

«Na blogosfera, como em muita literatura académica, o liberalismo versus não-liberalismo é discutido em termos de menos Estado ou mais Estado, e é essa fixação na dimensão do Estado que, não apenas me parece irrelevante, como, na realidade não serve os argumentos daqueles que gostariam de se apresentar como liberais.

Porque a realidade é esta. Os países mais desenvolvidos e ricos do mundo são os países escandinavos da Europa, tal como medidos pelo Índice de Desenvolvimento Humano ou pelo PIB per capita. Ora, acontece que estes são também os países do mundo onde o Estado é maior, tal como medido pela percentagem da despesa pública no PIB.»
Há aqui muitos factores que não são tidos em consideração. Os países escandinavos são quase isentos de corrupção. Além disso, o nível de educação e o escrutínio popular das instituições públicas é mais elevado. Também o ranking de liberdade educativa é liderado por esses países. Também os impostos sobre as empresas são moderados em comparação à quantidade e qualidade de serviços prestados pelo Estado. Todos os países escandinavos têm menos população que Portugal, tornando-os mais fáceis de gerir. Alguns até têm petróleo.

Não sou fundamentalista sobre a dimensão do Estado. Na minha opinião, qualquer medida política deve ser ponderada tendo em conta contexto em que se insere. Aumentar o Estado português, que é gordo já de si, seria um erro, principalmente com classe política que temos. Ninguém quer ter uma enfermeira descuidada a dar vacinas. Por esta lógica, acho má ideia passar-lhe um bisturi para a mão.


quinta-feira, setembro 18, 2008

Liberalismo Económico I

Adam Smith aconselhou os seus contemporâneos a desconfiarem das propostas apresentadas pelos empresários. A razão era simples: existia uma enorme probabilidade de tentarem favorecer a sua posição individual em detrimento do meio colectivo.

Até aqui, tudo bem, visto que esta opinião é bastante consensual na maioria das ideologias políticas. Há um pequeno "senão". A maioria das pessoas julga que um cidadão, ao tornar-se político, é imbuído de um espírito de santidade. Este raciocínio legitima a maioria das posições de Esquerda sobre a centralização e estatitazação do poder decisório económico das sociedades. Porém, é mais complicado de perceber se um político está a legislar/decidir para benefício colectivo ou benefício próprio. Assim, é mais complicado escrutinar a actuação pública do que a privada.

Quando até o Supremo Tribunal é influenciado por posições partidárias, é muito difícil estipular se as entidades reguladoras como o BCE ou a FED estão a agir no melhor interesse dos cidadãos. Cabe-nos interpretar os factos de forma a discernir se as consequências tiveram causa em falta de regulação ou má regulação. Esta é a questão essencial na crise do subprime.

 

terça-feira, setembro 16, 2008

Absolutamente Recomendado

Sobre o casamento:

Giovanna tem uma hepatite incurável. Em Julho foi-lhe induzido o estado de coma para evitar as dores. Mas, antes, Giovanna pediu que a despertassem do coma para poder casar com o companheiro e pai do seu filho.
Aconteceu no passado domingo, em Pádua. O noivo, as testemunhas e o celebrante tiveram de usar máscaras e vestes esterilizadas e a cerimónia realizou-se em plena unidade de Cuidados Intensivos. A noiva estava em sofrimento físico mas feliz. Caiu em coma logo após o ‘sim’. Apesar de não dever recuperar mais a consciência, o seu marido garantiu que a sua vida terminará “num raio de alegria, uma felicidade que nada lhe roubará”.
Não pude deixar de pensar quão pequeninos são aqueles que apregoam que único fim do casamento é a procriação.

Carlos Abreu Amorim via Blasfémias.

PS: Nova etiqueta dedicada ao liberalismo: Águas Livres

sexta-feira, setembro 12, 2008

Precariedade

A discussão sobre a precariedade dos empregos anda por aí à solta. Porém, muitos dos conceitos vão da simples confusão até à asneirada curta e grossa. Vamos por pontos:

1- O que é a precariedade?

As pessoas, habitualmente, consideram precário o emprego que não está vinculado por um contrato duradouro (permanente, se possível), sendo também costume ligar esta designação à mão-de-obra "mal" remunerada.

2- Como funciona o mercado de trabalho?

Num mercado perfeito, a flexibilidade seria infinita. Isto significa total capacidade de deslocação da mão-de-obra ou das empresas de uma região para outra, aceitação de qualquer horário de trabalho e remuneração, entre outros factores. Porém, este cenário, é, não só, impossível, como, também, indesejado. Nada justifica a escravidão dos trabalhadores.
De tal forma, o sistema que existe é um meio caminho entre a inflexibilidade total e a flexibilidade perfeita. Isto significa que tanto os patrões como os empregados têm de fazer cedências.

Todos os mercados funcionam como "mega-leilões". Esses leilões estabelecem equilíbrios de poder, sendo esse poder atribuindo consoante o valor dos produtos. Se eu for o único perito em informática do planeta, as empresas que precisarem de vão pagar-me fortunas pelos meus serviços, caso eles fossem mesmo necessários (só me iriam pagar até ao ponto em que fosse mais proveitoso utilizar outra tecnologia). Da mesma forma, se todos os trabalhadores fossem peritos informáticos e apenas existisse uma única empresa interessadas nessa especialidade, todos eles iriam baixar os seus salários na esperança de obter um lugar na empresa (apenas até ao ponto em que seria mais proveitoso mudar de ramo). O mercado real é uma combinação entre estas duas realidades, mas com milhares de milhões de elementos.

3- Como surge a precariedade?

A precariedade (recibos verdes e afins) e o desemprego elevado costumam resultar de uma saturação na procura de emprego, relativamente à oferta. No caso português, isso acontece porque a economia não está a crescer a um ritmo saudável. A criação de emprego é ténue. O facto de muitas empresas estarem a falir, devido à reestruturação da economia, não ajuda. A razão porque há mais empresas a falir do que a serem criadas será discutida num post dedicado exclusivamente ao assunto.

4- Porque é que combater os recibos verdes (na actual conjectura económica) é má ideia?

Se estabelecermos 3 patamares de "segurança laboral", do mais seguro para o menos seguro, temos o contrato definitivo, o contrato a prazo/recibos verdes e o desemprego. O patamar "desemprego" pode não ser um tipo de segurança no trabalho, se formos exactos, mas serve para explicação que vou expor de seguida:

A) Muitos Empregos/Flexibilidade Alta: Muitos Definitivos; Alguns Recibos; Desemprego Baixo

B) Poucos Empregos/Flexibilidade Alta: Alguns Definitivos; Muitos Recibos; Desemprego Médio 

C) Muitos Empregos/Flexibilidade Baixa: Muitos Definitivos; Poucos Recibos; Desemprego Médio

D) Poucos Empregos/Flexibilidade Baixa: Poucos Definitivos; Poucos Recibos; Desemprego Alto

O custo de empregar alguém é alto, assim como o risco. Os estágios, por exemplo, são uma forma do empregador e o empregado partilharem os riscos: o primeiro corre o risco de empregar um funcionário mau, enquanto o segundo corre o risco de ficar vinculado a um emprego que não lhe agrada (mau ambiente, má remuneração, falta de organização, sobrecarga de trabalho, etc). É óbvio que uma economia com fraca expansão económica reforça o poder dos patrões, visto que controlam uma percentagem maior da oferta de emprego, ficando os trabalhadores sujeitos a condições negociais menos favoráveis para eles. A imposição de regras para evitar o trabalho precário só vai aumentar o risco de empregar alguém, limitando o número de postos de trabalho disponível. Por outras palavras, o custo não-monetário (as restrições) vai acabar por ser mais prejudicial, a pôr gente no desemprego, do que benéfico, a dar-lhes empregos instáveis. O custo de isto não acontecer é a diminuição da produtividade das empresas ou a queda dos salários.

Por algum motivo, muitos dos países desenvolvidos começam a adoptar modelos de flexi-segurança. Curiosamente, os países nórdicos lideram a tabela dos países com maiores liberdades económicas, enquanto Portugal fica-se pelo 53º lugar. Basta dar um saltinho à página dos detalhes, mais concretamente ao peso do governo e a flexibilidade do trabalho, para perceber porque pontuamos tão baixo.

Qualquer dúvida, caixa de comentários.

PS: estreio, com este post, a etiqueta Rota das Especiarias, para assuntos económicos.

«Me is heading West Side» II

«Caro Hugo

Já tivemos uma desistência pelo que o 1º candidato na lista de suplentes já tem vaga. O Hugo vai receber nos próximos dias uma carta a confirmar esta situação.

Bem vindo ao MCMM

Cumps

Pedro Almeida [Director do Mestrado em Comunicação Multimédia na Universidade de Aveiro]»

A minha (boa) sorte do costume.
Cambada, lá vou eu a fazer as malas e partir para uma nova cidade.
Mais uma moedinha, mais uma voltinha.

quinta-feira, setembro 11, 2008

3-2

No telejornal falou-se que Carlos Queirós tinha alguma responsabilidade na derrota da Selecção Nacional de Futebol frente à Dinamarca. Há uns mesitos uma situação semelhante tinha garantido ao seleccionador nacional insultos de "besta" para cima. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Deseducação Portuguesa I

Fui confrontado com uma notícia aterradora. 

Criminalidade violenta?

Não. Pior.

Pior?! Raptaram uma criança inglesa na praia da luz?!

Também não é preciso exagerar...

Portugal tinha 9% de analfabetos em 2001. Estamos a falar de aproximadamente 900 mil pessoas que não sabem ler/escrever. Estamos a falar do século XXI. Estamos a falar de um país da União Europeia.
Claro que podemos todos agradecer ao Dr. Oliveira & Companhia por este fabuloso legado.
Curiosamente, somos dos países que mais investem em educação, em percentagem do PIB.
É interessante analisar toda a estrutura da nossa «deseducação» para compreender uma das principais razões pelas quais «isto não anda para a frente»:  um terço com o ensino básico, 15% (desses 33%) completaram o ensino secundário e 8,6% (desses 15%, obviamente) com formação superior.
Tendo isto tudo em conta, é de uma extrema importância começar a pensar se mais umas toneladas de alcatrão para fazer autoestradas é algo absolutamente necessário.
O desenvolvimento e a educação andam de mãos dadas. Porém, não é com «paixão» que lá vamos. Só com muita ponderação e, sobretudo, duras reformas, é que a Educação portuguesa avança. Esse salto só pode ser efectuado com a ajuda de todos, professores, pais e alunos.
Irei dedicar alguns post a assuntos como o cheque-ensino e a autonomia escolar, tentando compilar algum conhecimento útil sobre o assunto. Para que, em 2011, a vergonha nos censos não se repita. E só falta um ano para as legislativas e três para 2011... Como diria António Guterres: é fazer as contas.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Outra achega sobre a «vaga de criminalidade»

Outro artigo sobre a mediatização da criminalidade. Recomendo fortemente a leitura do texto completo.
«(...)Para combater este flagelo [crime violento] tem havido grandes operações policiais com centenas de polícias e grande aparato. Com bons resultados. Não pela soqueira e pistola de alarme que apreenderam mas porque apanharam dezenas de condutores bêbados. Se querem aumentar a segurança a primeira coisa é mesmo tirar os bêbados da estada. Em 2000, por exemplo, morreram em Portugal 1357 pessoas por acidentes rodoviários, 525 por suicídio e 97 por homicídio (3).

Salpicaram pelas reportagens algumas especulações acerca do que teria causado a vaga de crimes violentos mas não mencionaram as duas mais óbvias. A falta de qualidade do jornalismo e a apetência do público pelo alarmismo infundado. O candidato deles foi a reforma do Código de Processo Penal porque agora não há prisão preventiva para alguns crimes onde se aplicava antes. Parece-me pouco realista. Bute lá assaltar o Pizza Hut? Bute, que só vamos presos depois do julgamento.(...)»


Ludwig Krippahl via Que Treta!