segunda-feira, outubro 16, 2006

Ensaio II

-TE MT


Na via rápida passando por baixo dum viaduto, ficam para trás letras pintadas no betão, perdidas no tempo: -TE MT. A pergunta é incontornável: -te mt o quê? Eis o mistério residente. Uma questão implícita em cada um de nós. Um sujeito camuflado e um complemento directo. Nada de predicado. Que predicam vocês, e por quem? Neste rascunho estão todas as possibilidades: amo-te, odeio-te, ignoro-te. Personalizem as vossas escolhas, plantem apostas, a tinta persistirá por muitos anos, mas o destinatário não. Sejam lestos e certeiros. O hábil pintor inconsciente do seu crime, reuniu numa só expressão, a certeza dos convictos, a dúvida dos inseguros e o pesadelo dos solitários. É esta a sua dádiva, é esta a sua cruz. Haja ajuda no Reino dos Céus, que cá em baixo é cada um por si...


4 comentários:

Rui Afonso disse...

E quantas vezes, em muros, descabidamente, se plantam almas... Sem predicados. Por sujeitos que gostariam de os ter. E a dádiva pode ser essa - um predicado sentido para um sujeito que sente.

NJRT disse...

O núcleo da mensagem surge das circunstâncias inerentes do locutor e respectivo destinatário, mesmo desaparecendo estes, a mensagem fica. É o fascínio da língua gravada na pedra.

Anónimo disse...

Quero comentar mas deixaste-me sem palavras. A tua forma de escrever é indescritivel. Fizeste-me por segundos lembrar um quadro futurista: agarrar o momento com o pincel e dar-lhe multiplos pontos de vista. O resultado final por vezes é indecifravel mas não são só os olhos que vêem é também a mente. Resta apenas reconstruir o movimento da vida, das palavras e dar-lhe o significado que está em nós.

Anónimo disse...

Já reparei k estes comments estão tds muito filosóficos, tipo, lá está a minha mana com a mania das pinturas... Eu vou ser muito mais, se calhar até demasiado simplista: está lindo o k escrevest!!!
xxx