terça-feira, maio 26, 2009

Recomendado VI

JCD, sobre os conhecimentos sobre economia do público em geral:

A única mensagem que ouvimos dos políticos, com raras excepções, é a defesa de mais despesa pública, mais ‘investimento’, mais ajudas, mais apoios sociais, mais regulação, mais bailouts. Aquilo que se fez nos últimos anos, multiplicado por 10. São as “medidas” que uns anunciam e outros exigem e quase todas elas terão o mesmo resultado que aquele que o taberneiro poderia esperar ao efectuar uma cirurgia cerebral.

A verdade é que não parecemos excessivamente preocupados – quem dorme na praia não se assusta com o tsunami. Também não temos muito por onde escolher. O que está em causa, afinal, é apenas saber qual ou quais os partidos que vão aumentar os impostos em 2010 e que nos vão conduzir até às próximas eleições – onde se repetirão as mesmas promessas para que os mesmos ou outros partidos possam cometer os mesmos disparates e assim sucessivamente – enquanto houver eleições.

Via Blasfémias.

quarta-feira, maio 20, 2009

A Valsa do Adeus

Milan Kundera é, desde há alguns anos, o meu romancista favorito. O último livro que li, da sua autoria, tem o nome deste post. Apesar de não ter o peso dramático das suas obras maiores ("A Insustentável Leveza do Ser" e, aquela que considero, simultaneamente, a sua obra-prima e o meu livro preferido, "A Imortalidade"), "A Valsa do Adeus" transmite toda a essência dos romances de Kundera, com o seu estilo de "experimentação social", em que atira as personagens para um contexto histórico e tenta extrair, daí, o enredo dos seus livros. Vou transcrever um trecho que me chamou a atenção, nesta obra:

Coçava o dorso do cão e pensava na cena que acabara de testemunhar. Os velhos senhores armados de longas varas confundiam-se para ele com os guardas prisionais, os juízes de instrução e os informadores que espiavam, tentando ver se o vizinho falava de política enquanto ia às compras. O que é que impelia aquelas pessoas para a sua actividade sinistra? A maldade? Sem dúvida, mas também o desejo de ordem. Porque o desejo de ordem quer transformar o mundo humano num reino inorgânico onde tudo funcional, bem regulado, onde tudo se encontra submetido a uma vontade impessoal. O desejo de ordem é ao mesmo tempo desejo de morte, porque a vida é perpétua violação da ordem. Ou, inversamente, o desejo de ordem é o pretexto virtuoso através do qual o ódio do homem pelo homen justifica as suas malfeitorias.

Depois, pensou na jovem loura loura que queria impedi-lo de entrar no Richmond (hotel) com o cão e experimentou por ela um ódio doloroso. Os velhos armados de varas não o irritavam, conhecia-os bem, previa-os, nunca duvidara que existissem e que existiriam sempre e seriam sempre seus perseguidores. Mas aquela mulher nova era a sua derrota. Era bonita e entrara e entrara em cena não como perseguidor mas como espectador que, fascinado pelo espectáculo, se identifica com os perseguidores. 

Jakub sentia-se sempre transido de horror ante a ideia de que os que assistem estão prontos a segurar a vítima durante a execução. Porque, com o tempo, o carrasco tornou-se figura próxima e familiar, ao passo que o perseguido tem qualquer coisa que tresanda a aristocrata. A alma da multidão, que se identificava outrora com os miseráveis perseguidos, identifica-se hoje com a miséria dos perseguidores. Porque a caça ao homem é no nosso século a caça aos priveligiados: aos que lêem livros ou que têm um cão.


segunda-feira, maio 18, 2009

Nela



É impressão minha ou este cartaz parece saído de uma campanha daquelas linhas de prevenção ao Suicídio?

sábado, maio 16, 2009

Twitter

O Twitter é um programa que suporta uma rede social de relativamente pouca gente a dizer muita coisa. A coisa pegou. Mas desengane-se quem acredita que é um fenómeno de massas. O Hi5 é um fenómeno de massas. O MySpace é um fenómeno de massas. O Facebook também. O Twitter cresce muito menos que estes três, em número de utilizadores, e, segundo os últimos dados, tem uma taxa de desistência perto dos dois terços (66%), ao fim de um mês.

É uma parvoíce. Mas acho que é uma parvoíce com potencial. Porém, há algumas ressalvas a fazer.

Habitualmente, considera-se um "nerd" alguém que se dedicou tanto a um assunto que perdeu o enquadramento das coisas na Realidade. Desta forma, o Twitter pode ser algo perigoso. Como exemplo, apresento-vos este artigo. Este artigo fala dos supostos 10 humoristas mais engraçados do Twitter. Ora, depois de ler um por um, achei que deviam acrescentar uma advertência no fim: 

Se achou piada a isto, consulte um médico.
Pode ter sofrido um AVC.

Por isso, Twittem com cuidado, não percam a noção da realidade e não fiquem como aqueles informáticos que mandam piadas sobre programação que, além de sofríveis, deixam as pessoas confrangidas. Um bem-haja a todos.

PS: Não queria estar aqui a levantar boatos, mas o Twitter do Paulo Querido é SPAM.

quinta-feira, maio 14, 2009

Só para avisar que


estou cada vez mais de Direita.





Ó Nélson, faz lá isto a ver o que te dá, fachabor.

Escolhas (actualização)

Sou forçado a discordar do Pedro Morgado neste assunto. Há aqui dois problemas que lhe são subjacentes. 

Primeiro, acho que deve existir alguma espécie de moderação neste tipo de estabelecimentos. Mas, como diz o povo, cada um é como cada qual, e os alunos (e os seus pais) deviam ser capazes de optar pela escola que fosse mais do seu agrado, não só pelos planos curriculares, mas também pelo conjunto de regras que lá fossem aplicadas.

Deixo aqui um exemplo curioso destas práticas, transcrevendo uma notícia que saiu no Courrier Internacional deste mês (Maio 2009):

Deitar tarde e tarde erguer

Acabaram-se os adolescentes que vão para as aulas cabecear! No liceu de Monkseaton, na Inglaterra, as aulas vão começar às 11 horas, se o director obtiver luz verde do conselho directivo do estabelecimento. O relógio biológico dos adolescentes é diferente do dos adultos, defende Paul Kelley, apoiando-se no trabalho de um investigador de Oxford, Russel Foster. Este professor de neurociências testou a memória de 200 alunos, entre as 9 e as 14 horas, revelando que os jovens são mais eficientes de tarde do que de manhã, informa THE OBSERVER. «Se os adolescentes se levantam de tarde, não é por serem preguiçosos, mas porque biologicamente estão programados para tal», afirma. Arrancar os liceais dos braços de Morfeus é prejudicar a sua aprendizagem, consideram o cientista e o director iconoclasta, cujos alunos obtiveram, em Janeiro, resultados espectaculares numa prova de ciências, em que se intercalavam períodos de trabalho de 20 minutos e intervalos de 10 minutos consagrados ao basquetebol.

Segundo, julgo que o sistema funcionaria melhor se cada escola pudesse escolher as suas normas de conduta. Porém, estou perfeitamente ciente que isto não seria muito justo porque a capacidade de escolha dos alunos, nas escolas públicas, é muito limitada e, por vezes, viciada. Este tipo de imposições, definidas arbitrariamente pelo conselho executivo, com pouca ou nenhuma representatividade dos encarregados de educação/alunos,  serviria apenas para saciar os caprichos de meia dúzia de arautos da moral e bons costumes, como refere o Pedro, e bem. Mas também não posso concordar que um pedido de sobriedade numa sala de aulas possa ser apontado como um tique fascista.

Resumindo: parece-me que o problema reside mais na falta de escolha, na altura de decidir por uma escola, do que as regras em si.

domingo, maio 10, 2009

Da Argumentação II

Dei por mim a ver o Eixo do Mal, na SIC Notícias. Atónito, descobri que o Daniel Oliveira é fervoroso apoiante de touradas(!). Até aqui tudo bem. Depois descambou. Porquê? Porque se deve defender as touradas visto que são "uma tradição e já existem há milhares de anos". Ninguém se insurgiu na mesa.

Portugal não é, propriamente, um dos sítios com mais respeito pela argumentação. Experimentem discutir qualquer assunto minimamente sério, à mesa, com a família, num Domingo. Recomendo o uso de capacetes.

Infelizmente, este mau hábito chega até aos programas televisivos e às figuras públicas que neles participam, passando daí para os incautos espectadores. Ora, dizer que algo é tradição e que já existe há muito tempo, para começar, é uma e a mesma coisa. Aliás, é tradição precisamente porque é um costume passado de geração em geração, necessitando de um espaço alargado de tempo para se enraizar nos costumes.

Mas o maior problema nem sequer está aqui. Daniel Oliveira não usou um único argumento válido para defender as touradas. Outras "instituições sociais" duraram muitos mais anos e foram extintas na mesma. Só a título de exemplo, a escravatura e, antes desta, o canibalismo. Depois há toda uma panóplia de coisas que vão desde queimar hereges em fogueiras, até dizer que uma mulher que perca a virgindade, antes do casamento, foi desonrada. Daí não perceber o que é que o facto de algo ser tradição ter a ver com a manutenção da mesma.
Mas é sempre bom saber que os cronistas da nossa praça continuam em forma para educar o povo.

sexta-feira, maio 08, 2009

O Triunfo do Capitalismo

O sistema capitalista contemporâneo começou a surgir na Europa Ocidental no século XVII na esteira de dois grandes acontecimentos: (1) os avanços institucionais que aboliram o arbítrio dos reis, asseguraram direitos de propriedade e lançaram as bases das finanças modernas; (2) a derrubada de certos dogmas da Igreja Católica, o que permitiu o desenvolvimento da ciência e deu status moral à atividade de emprestar dinheiro.

Até o advento dessa revolução, a economia européia precisara de quinze séculos para quadruplicar. Em 1820, o capitalismo havia gerado o mesmo desempenho em apenas 320 anos. Daí até o fim do século XX, 180 anos depois, o PIB europeu multiplicou-se por 47. Nesses 500 anos, a economia americana se expandiu 634 vezes. Nos tempos atuais, a economia chinesa tem dobrado a cada seis ou sete anos.



quarta-feira, maio 06, 2009

A panelinha

já começa a aquecer em lume brando.


E, como todas as panelas de pressão, está sujeita a dar o estouro. Quando, não sei. Mas aceitam-se apostas.

segunda-feira, maio 04, 2009

Época de Caça

O economista Medina Carreira deu uma entrevista ao Correio da Manhã que é cada tiro cada melro. Tem algumas saídas muito boas, como esta que transcrevo:

LC – Mas, apesar de tudo, a solução continua a estar dentro dos partidos? Passa pela reforma dos partidos?

- Eu defendo isso. Tem de se abrir os partidos. Porque hoje não atraem nenhuma pessoa inteligente, livre, que tenha futuro na vida. Não se mete num partido. Só se metem lá uns manhosos, porque aquilo é uma carreira. Entram lá pequeninos, depois estão lá mais uns tempos, depois são assessores, depois são guarda portões e depois são ministros.