quinta-feira, dezembro 24, 2009

Na Pastelaria

Fulano entra numa pastelaria. Dirigindo-se ao balcão, entabula conversa com o funcionário:

-Boa tarde. Têm croissants?

-Hum… Sim, temos uns coisos.

-Ah? Têm croissants ou não?

-Temos assim uns bolos.

-Mas são croissants?

-São assim mais ou menos… Sim, temos croissants.

-Então quero um misto e uma meia de leite.

-Meia de leite… Certo. Pode pagar já? Funcionamos com pré-pagamento.

-Não há problema.

-Levo já à mesa.

O funcionário chega, passados 10 minutos, com um bolo disforme e um café.

-Desculpe mas não foi isto que pedi.

-Não pediu um croissant?

-Sim, mas isto parece um bolo mal parido.

-Mas é um croissant.

-E o café?

-Repare que uma meia de leite leva café. Tomei a liberdade de trazer só metade, visto que o leite está em falta.

-Que caraças. E este bolo tem manteiga? Eu pedi com queijo e fiambre e traz-me… margarina?!

-Eram umas sobras que tinha ali do estrugido que fiz ao almoço.

-Mas o senhor está doido? Eu quero o meu dinheiro de volta!

-Não posso devolver.

-Mas então porquê?

-Porque você não tem fome. Você quer é um curso.

-Perdão?

-Isto é uma alegoria. Você está numa instituição de ensino superior, não numa pastelaria. O seu bolo mal amanhado representa aquelas cadeiras que você não precisa para nada. Contudo, são muito úteis para os professores que andam cá a dar água sem caneco e precisam de ter o horário completo. O seu café-projecto-de-meia-de-leite foi o curso que levou uma machadada devido a Bolonha. Vai para casa só meio doutor ou lá o que é. Escusado será dizer que o pré-pagamento é o seu dinheiro e dos contribuintes que entra nos nossos bolsos só porque anda cá.

-Mas isto é indecente!

-Ei! Cuidado com a língua! Acha que tirar um curso universitário é como ir à pastelaria comer um bolo?

-Claro que não. Na pastelaria dão-me o que peço.

Fulano fulo sai da pastelaria e bate com a porta.

Cai o pano.


Crónica publicada no ComUM Online.

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