É um género de magia
O mundo da atracção nunca cessará de maravilhar-me – e, entre as coisas que me maravilham nele, a mais maravilhosa é talvez o fascínio por mamas grandes. Pessoalmente, sou um homem de rabos. O rabo, sim, é pecado puro e simples. Já as mamas (eu talvez devesse dizer «seios», mas a palavra soa-me mal) são a maternidade na sua mais cabal acepção simbológica – e, embora não seja de excluir a existência de algum mistério em juntar o pecado e a maternidade numa mesma cobiça (eu também vi Donas de Casa Desesperadas, sei bem do que se trata), esta é uma coluna de respeito e, portanto, não estão autorizadas aqui misturas.
O que importa é que, segundo um estudo que leio numa daquelas revistas fúteis que de vez em quando não resistimos a compr… perdão, a ler no consultório do dentista, dois terços dos homens, ao cobiçarem uma mulher, olham-lhe primeiro para o peito e só depois para as nádegas. Daí que se aceite, de alguma forma, a obsessão de tantas e tantas mulheres, gordas e magras, ricas e pobres, de meia-idade e agora também jovens (e mesmo extremamente jovens), com a dimensão das suas «prateleiras», para usar uma expressão cara aos alarves que entretanto se assumem como público-alvo. O que é mais difícil de aceitar é a naturalidade, mesmo o desvelo, com que as mulheres que aumentam o peito desvendam o enigma.
Ainda no outro dia vi Vanessa Oliveira, uma jovem e belíssima manequim portuguesa, portadora de uns extraordinários olhos verde-água e de um vago ar surfista que só apetece raptá-la, metê-la numa cabana de praia na Austrália e pô-la a surfar só para nós, explicar tintim por tintim, nas páginas do Diário de Notícias, como decidiu aumentar os seios (pronto, vá, «os seios»), contactou médicos e fornecedores e ponderou métodos e dimensões até ir parar a umas mamas americanas que se implantam mesmo por baixo dos canais mamários e, portanto, lhe permitirão um dia engravidar, assim que lhe sobrevenha a vontade. E a estupefacção resume-se numa questão simples: mas, Vanessa, isso não devia ser segredo?
Porque, quer dizer, de que servem umas mamas grandes se, entretanto, toda a gente ficou a saber que tudo não passa de silicone, laser e costura à linha? Acaso, quando é elogiada pela sua bela dentadura, uma mulher se vira e informa: «Muito obrigado, mas é placa»? Porventura um homem a quem alguém elogie uma performance sexual respira fundo e suspira: «Muito grato, muito grato, mas não fui eu, foram os comprimidos»? Pois eu não vejo como os peitos postiços possam ser diferentes. Uns peitos postiços não podem ter outro desígnio senão despertar urgências de profanação ainda maiores. São uma ilusão. Ora, como todos sabemos, no momento em que o ilusionista desvenda o seu truque, a magia perde todo o encanto. E, ademais, ninguém quer profanar um pedaço de borracha.
Naturalmente, o que está aqui em causa é de novo uma questão classista, um arrivismo social, muito mais do que esta nova mania para que todos os mistérios do sexo, do desejo e das emoções em geral sejam manipulados e esclarecidos com a «maior das naturalidades». O que está em causa é estas senhoras e estas meninas poderem dizer à vizinha do lado, à colega da escola ou à ex-mulher do novo marido que elas, sim, têm dinheiro e desembaraço e mente aberta suficientes para se fazerem Firefox, procurarem aqueles doutores todos, inclusive os mais caros, e obrigarem-nos a transformá-las em monumentos à fecundidade, às capas de revista e aos filmes do canal Venus.
Pois só é pena que, como ainda há dias admitiu Carmen Electra, «actriz» norte-americana que no passado teve a infeliz ideia de adubar os seus peitos perfeitinhos, venham muitas delas a chorar o par de melões, na certeza de que, agora, tirar de lá a borracha, a gordura extraída do rabo ou o que quer que tenham posto por baixo dos canais mamários as deixará com dois sacos de plástico vazios ao peito, com graves consequências para a qualidade do bronzeado e, aliás, para o grau de sofreguidão do marido, do namorado e/ou vizinho da frente agora tão saudosos de fechar a mão em conchinha e poderem arrebanhar de um só golpe toda a sua fertilidade.
Enfim, restam-lhes os antidepressivos. O que vale é que esta indústria sempre soube adaptar-se aos imperativos da economia dinâmica. No mais, e como tara, não me pronuncio. O Denny Crane também andou dois episódios à procura de uma mulher com perna de pau – e, no fim, não se queixou de nada. Mas eu prefiro não ir por aí. Há alçapões na alma de um homem que é melhor não abrir.
segunda-feira, maio 24, 2010
Alheia Crónica I
sexta-feira, maio 21, 2010
Engenharia Social
Uma Experiência Socialista(recebido por e-mail – provavelmente ficção, mas não deixa de ser uma boa história)
Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que nunca reprovou um só aluno antes, mas tinha, uma vez, reprovado uma turma inteira. Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e ‘justo. ‘
O professor então disse, “Ok, vamos fazer um experiência socialista nesta turma. Ao invés de dinheiro, usaremos as suas notas nas provas”. Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e portanto seriam ‘justas. ‘ Isso quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém seria reprovado. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia um “A”…
Depois que a média das primeiras provas foram tiradas, todos receberam “B”. Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.
Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram ainda menos – eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto, agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos. Como um resultado, a segunda média das provas foi “D”. Ninguém gostou.
Depois da terceira prova, a média geral foi um “F”. As notas não voltaram a patamares mais altos mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela turma. A busca por ‘justiça’ dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Portanto, todos os alunos repetiram o ano… Para sua total surpresa.
O professor explicou que a experiência socialista tinha falhado porque ela foi baseada no menor esforço possível da parte de seus participantes. Preguiça e mágoas foi o seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual a experiência tinha começado. “Quando a recompensa é grande”, disse ele, “o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem o seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável.” (...)
terça-feira, maio 18, 2010
A Música e as Letras
Com muito atraso, aqui está a minha última crónica publicada:
Não é incomum ouvir algum músico jovem dizer que não canta em português. Atrevo-me a afirmar que serão uma boa maioria. Alguns dirão que estão mais habituados a ouvir música em inglês. Outros, mais ousados, gritarão aos sete ventos que é em inglês que sentem aquele “feeling”, aquela cena de artista.
Desengane-se quem acha que vou declarar o meu desprezo por estas pessoas. Pelo contrário, até acho que fazem muito bem. Afinal de contas, o risco de sair parolice se tentassem pela via lusa era muitíssimo superior. É um favor que nos fazem aos ouvidos.
Mas então, porque é que isto acontece? Porque é que a nossa língua é tantas vezes remetida para segundo plano?
Recordo-me de ter lido, em tempos idos, num artigo de uma revista estrangeira, uma frase bastante interessante. Cito de memória: “Em Portugal, considera-se quase um crime não escrever bom português”. Haveria aqui, claramente, exagero, não fosse o texto uma análise sobre três escritores nacionais. A verdade é que o português é uma “língua de doutores”, apesar de as pessoas não lhe darem o crédito que merecem. O nível de dificuldade, para fazer uma letra de uma canção decente, é extremamente superior à sua congénere anglo-saxónica.
Há dois factores que complicam, especialmente, os compositores portugueses: a falta de musicalidade natural da língua e a dificuldade em rimar sem soar forçado e/ou saloio. A nossa língua está cheia de palavras grandes em frases longas, complicando a métrica e os versos. A conjugação dos verbos também tem as suas particularidades, com os singulares às turras aos plurais, com os tempos metidos ao barulho. É preciso unhas para isto. É preciso garra.
Esta manifestação quase literária da música está patente naquela que é nossa criação musical mais conhecida, o fado. Quem alguma vez o cantou apercebe-se, rapidamente, que há algo deveras invulgar nele. Se precisasse de uma analogia para explicar a alguém o que é o fado, escolheria, sem dúvidas, o rally. As semelhanças são várias. É preciso dar muita mais atenção à técnica do que à força, preterindo a intensidade ao detalhe, ao ritmo. É difícil encontrar estilo em que as pausas façam tanta diferença.
Muito estudo e leitura são as duas componentes essenciais para escrever boas letras em português. E é preciso mais boa música portuguesa e em português. É que, para fazerem rimas no infinitivo à quadra antonina, mais vale investir em canas e anzóis.
PS: Para terem ideia de como os portugueses estimam o que é seu, comparem a quantidade de informação da página sobre Amália Rodrigues com a da Britney Spears, na Wikipedia em português.
Crónica publicada no ComUM Online.