“Existe fúria na Vida. Ela brota até do mais cimentado dos cemitérios” – Golias Ferreira
O que se vê nesta imagem? Em primeiro plano, uma pequena erva daninha inserida num muro. No fundo, contracenando, um bloco de apartamentos.
A perspectiva, nesta foto, é tudo. Um plano que enquadre estes dois elementos, a planta e os apartamentos, mas que não exiba o primeiro como protagonista perde toda a “magia”. Quem é que iria reparar numa pequeno “borrão” verde quando tem um edifício, que é um colosso comparando com o pequeno rebento inurbano, mesmo à sua frente? A posição dos elementos não podia ser mais explícita. Primeiro a relação planta/parede e depois planta/prédio; obra natural/obra humana, oprimido/opressor, uma infinidade de binómios sucedem-se.
O que se pode concluir, quantas leituras se podem fazer destas interacções? A resposta é: inúmeras. Uma imagem com tantas possíveis abordagens subjectivas poderia servir praticamente qualquer propósito. Para um ecologista pode representar a opressão à Natureza por parte do Homem, ou a grandeza desta face à mesquinhez da civilização. Para um desesperado pode simbolizar a esperança, que surge de onde menos se espera, ou que, tal como a planta, sobrevive mesmo nas mais adversas condições. Idealizei a fotografia de forma a possuir uma pluralidade de significados, que serve de espelho a quem vê.
A foto foi tirada em Guimarães (por um amigo, a meu pedido), mas podia ter sido obtida em qualquer lugar. Não há um traço distintivo que indique a origem da fotografia, o que lhe confere um carácter universal. Não existem referências temporais, a época em que o “clic” se deu é irrelevante. É o perfil do Spectator (como diria Barthes) e o espaço-tempo em que se insere que vão estipular o nexo deste contexto, o que ele diz ou “deve” dizer.
Na meu ver, a imagem simboliza a força de vontade, o desejo de triunfo. O sentido da Vida, a nossa razão de existir poderia estar inserido nesta composição visual tão simples: a insurreição do Homem perante a irracionalidade do Ser e a atitude “Nada é certo ou definitivo, a verdade absoluta pode ser ilusão, mas estou vivo e vou lutar para ser feliz, e não vou parar até o conseguir”.
Uma opinião vale exactamente uma opinião. Não posso estar errado nem posso estar certo. O que vejo é o que sou, projectado na imagem.
Bibliografia:
A Câmara Clara de Roland Barthes
Fotografia:
O Pequeno Tudo de João Soares Monteiro e Hugo Monteiro
Epígrafe:
Da autoria de Golias Ferreira (pseudónimo de Hugo Monteiro)