Andei a adiar a crítica a este livro. Chegou, volvidos quatro meses. Um leitura lenta, como um cozinhado.
«Beat. Um termo que diz muito a poucos e pouco a muitos. No seio da geração Beat, precursora do movimento hippie, jaz(z?) Jack Kerouac. «Pela Estrada Fora», a obra-prima do autor, reflecte sobre aquilo que todos os jovens querem realmente fazer com as suas vidas.
Sal Paradise, nome que Kerouac assume enquanto narrador, inicia o período da sua vida «pela estrada fora» quando conhece Dean Moriarty e o apresenta ao seu amigo Carlo Marx. Assim se inicia a primeira de uma série de viagens pela América dos anos 40. Dean é mais de metade da loucura do enredo. Ex-presidiário, aficionado por automóveis, dá uma cor especial à trama, com o seu estilo absolutamente «nas tintas» e a sua loucura galopante. Loucura será, talvez, a palavra mais repetida do livro. Um ser necessitado, que busca «Aquilo», o que quer que «Aquilo» seja. Comboio, autocarro, à boleia, em carro próprio, partilhado ou roubado, tudo é um meio para atingi-LO. Porque eles têm a «intuição do tempo», e isso é tudo o que importa.
A necessidade de partir está sempre presente. É, aliás, desta forma, que Kerouac estrutura o romance, dividindo-o de acordo com as viagens que o levam até à América profunda. A escrita é impetuosa e agressiva, o tom é gravemente delirante, o que não é de estranhar quando o livro se baseia num manuscrito que foi redigido em três semanas, segundo reza a lenda. É-nos servido um «Novo Oeste» mitológico, ainda cheirando a velho: Hipsters, Okies, Beatnicks, vagabundos, putas e paneleiros; há simplesmente demasiadas personagens para uma vida inteira, quanto mais para uma obra só.
Com participações especiais de Deus, na figura de três ou quatro músicos de Bebop, um estilo de Jazz muito em voga nessa época, ou da miúda mais bonita de sempre e arredores (denominação que atribuíam a cada uma que parecia ser do seu especial agrado), Kerouac apresenta-nos a primeira e derradeira história estilo roadtrip. Uma fornada de gente saída dos horrores da Segunda Grande Guerra, ávida de viver. Uma juventude (tardia?) que nunca quer deixar de o ser, lutando para não morrer de tédio.
É interessante encontrar as diferenças (enormes) entre a época em que decorre a história e a actualidade, parecendo impossível estar a falar-se da mesma América e do mesmo século XX. A pintura idílica do aventureiro imprevisível, descrição exímia de quem pretende tudo e não possui nada. Transcrevo, apenas, uma breve passagem que descreve toda a alma da obra: «Sal, temos de ir sem nunca parar até lá chegarmos. – Chegarmos onde, pá? – Não sei, mas temos de ir.» E assim foram. Pela estrada fora.»
Na 8º Edição do ComUM impresso (página 13).
Recordando alguns dos nossos livros de cabeceira em 2024
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Eu
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Há 5 horas
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