Alguns dos artigos mais "sérios" da Wikipédia portuguesa chegam a roçar o ridículo. Enquanto andava à procura de informação sobre correntes políticas, deparei-me com isto. Tanto a página do liberalismo clássico como a do neoliberalismo foram, descaradamente, escritas por marxistas ferrenhos, preferindo denegrir em vez de expor os detalhes de cada ideologia (aquilo que me interessava saber). Basta comparar a pobreza destes artigos com estes dois. Felizmente, os colegas da versão inglesa têm muito mais cuidado a redigir artigos do que os lusos. Dá mais algum trabalho, mas vale a pena.
Duplo critério
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Depois de ver a reportagem de José Manuel Rosendo no campo de refugiados em
Yarmouk dei por mim a questionar-me, porque é que os palestinianos que ali
te...
Há 1 hora
7 comentários:
Pode ter-te incomodado, mas Pinochet e Fujimori foram mesmo adeptos do mercado livre.
A verdade é que o capitalismo para reinar não precisa de democracia para nada, aliás, o capitalismo cada vez mais reclama abolições de direitos democráticos.
Desde a expropriação indevida, corte abrupto de direitos laborais, fomentar de guerras e conflitos regionais, a instalação do securitarismo mais feroz no local de trabalho e na via pública, o mercado não olha a meios para garantir a sua sobrevivência, custe a quem custar.
Para te ser sincero, não denotei nenhum tipo de marxismo ou facciosismo nos textos portugueses sobre o liberalismo. Agora, é apenas natural que qualquer assunto na Wikipedia seja mais desenvolvido na sua versão inglesa do que a portuguesa.
É pena que os adeptos do capitalismo não saibam admitir os crimes que foram cometidos a favor do "seu" sistema, desde o genocídio dos americanos nativos, passando pela Fome Irlandesa ou as liberalizações nos países pertencentes à União Soviética após a queda desta e as mais recentes guerras no médio oriente.
«A verdade é que o capitalismo para reinar não precisa de democracia para nada, aliás, o capitalismo cada vez mais reclama abolições de direitos democráticos.»
Repara que a evidência estatística diz o contrário. Há uma correlação positiva e bastante forte (que tende a aumentar com o crescimento do PIB per capita) entre o grau de liberdade económica e o grau de democraticidade de uma sociedade. Não tenho os estudos à mão mas se quiseres posso procurá-los.
«É pena que os adeptos do capitalismo não saibam admitir os crimes que foram cometidos a favor do "seu" sistema, desde o genocídio dos americanos nativos, passando pela Fome Irlandesa ou as liberalizações nos países pertencentes à União Soviética após a queda desta e as mais recentes guerras no médio oriente»
É um pouco difícil ver capitalismo nos dois primeiros casos. Quanto ao último, o capitalismo devia assumir aí alguma responsabilidade, embora eu não veja por que se deva envergonhar do crescimento económico dos últimos 15 anos, uma boa evolução em relação aos anos soviéticos.
Quanto ao Médio Oriente, não digas disparates.
Como explica o próprio texto da Wikipedia e qualquer texto histórico minimamente avesso ao revisionismo, o Pinochet instaurou uma ditadura política onde a economia seguia modelos neoliberais.
Mas passando esse caso, mesmo no Ocidente "civilizado" não podes considerar democrático que os interesses económicos e financeiros tenham acesso privilegiado, directo e contínuo à classe política através de lobbies enquanto o resto da "populaça" lá se entretém de quatro em quatro anos com as eleições.
Depois tens o ataque cerrado aos direitos laborais, a desregular de horários, o surgimento das empresas de trabalho temporário, o combate declarado ao sindicalismo, e tudo isto brindado com salários que não chegam a meio do mês.
Grande parte das medidas tomadas a nível económico são feitas para beneficiar a classe económica dominante, não os trabalhadores ou as populações; e cada vez mais os empregos são precários, onde o minimo deslize leva ao despedimento. O recente código de trabalho(agora chumbado pelo TC) é reflexo disso, tal como a oferta de 2000 euros que o Estado dará a cada empresa por dar o primeiro emprego aos jovens, ou então a oferta de terrenos a empresas para se instalarem ou a isenção fiscal.
Desde a oferta de dinheiros públicos ao corte de direitos a pedido, tudo é feito para estes senhores. Os restantes, trabalhadores e desempregados, que se amanhem.
Basta veres a enormidade que foi dada aos bancos e o valor reservado aos desempregados(que em tempos de crise, não são poucos).
Quanto aos casos que apontei... a matança dos indíos americanos, duvido que os terrenos apropriados a estes últimos e os artigos produzidos lá fossem propriedade estatal ou utilizados num qualquer outro sistema que não o de mercado.
A Fome Irlandesa, que matou pelo menos 1,5 milhões de irlandeses também se passou num território que fazia parte do Império Britânico, onde os terrenos pertenciam a senhores ingleses que os exploravam por conta própria e por vezes com a ajuda de intermediários.
A Irlanda até produzia muita comida, mas obviamente que esta pertencia aos proprietários britânicos, por isso aos irlandeses restavam-lhes somente as batatas como alimentação. Quando as ditas batatas ficaram infectadas a nível nacional com um fungo qualquer, elas deixaram de poder ser próprias para alimentação, o que veio a causar a matança.
Relativamente à queda da União Soviética, deixo-te um link de outro blog, o Ladrões de Bicicletas, http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2009/01/as-utopias-de-mercado-fazem-mal-sade.html
Quanto às guerras no Médio Oriente, tens razão, elas foram feitas para "acabar com o terrorismo" e "eliminar as armas de destruição maciça. Aliás, desde a invasão ao Iraque e ao Afeganistão temos todos vindo a experimentar os benefícios dessa luta. Em especial, as empresas de armamento e aquelas que entraram à solipampa pelo Iraque e Afeganistão adentro.
Só um apontamento: Isso do crescimento económico tem o que se lhe diga, a Grécia tem vindo a crescer cerca de 3% nos últimos anos e entretanto aconteceu o que se viu, muito devido ao emprego precário e mal pago.
O mesmo mal se pode dizer em Espanha, que teve nos últimos anos uma taxa de desemprego a rondar os 10% e até 2010 chegará aos 18%.
Assumo. A loucura será minha. Estou a imaginar coisas. Niguém, no seu perfeito juízo, escreveria aquilo que eu, na minha loucura, achei ter visto aqui escrito. De qualquer forma, deixo o resto da discussão para o Romano.
Nélson:
Não me incomodam factos históricos.
Incomoda-me que um artigo que quero que seja imparcial apresente características que o desvirtuam como fonte de informação. Repara que o artigo sobre liberalismo clássico tem metade de informação sobre essa escola de pensamento e outra metade a refutar, baseada num livro que o autor do artigo leu. Isto,para mim, não colhe.
Também a tua acusação sobre Pinochet e Fujimuri não me convence. Julgo que as ideologias são meras desculpas para pôr em curso práticas despóticas. Política ou religião são, muitas vezes, desculpas utilizadas por líderes para justificar a sua ânsia de poder ou combater os seus ódios de estimação. Não vez líderes de organizações terroristas a martirizarem-se pela sua causa, pois não? É tudo conversa.
E não queiras começar aqui uma guerra a ver que ideologia matou mais gente. Sabes muito bem que perdes. Mas eu considero que entrar por esse ponto iria desvirtuar a discussão.
Outro ponto curioso é aquele em que puxas a discussão para o capitalismo. Não te compreendo. Estás contra o capitalismo, o liberalismo ou o sebastianismo? É que a conversa já deu tantas voltas que acho já não haver ponta por onde se lhe pegue.
Muitos dos crimes que apontas ao capitalismo estão directamente relacionados com crimes potenciados pela ganância. Como deves saber, a ganância é uma característica transversal a todos os seres humanos. Não há nenhum sistema político, por mais rebuscado que seja, capaz de eliminar esse tipo de comportamentos. Quanto muito, podes ter um sistema de justiça que puna esses comportamentos. Porém, devo dizer-te que esse da Irlanda e a dos Índios americanos está mesmo muito rebuscado.
Declaração de interesses:
Não sou empresário, latifundiário ou dono de um banco (nem accionista de um, by the way). Não estou propriamente a nadar em dinheiro e a minha família corre um real risco de ser afectada, severamente, pela crise. Apesar disso, não me parece que andar a atirar pedras ao bicho-papão vá resolver alguma coisa ou afastar os problemas.
Também não tenho especial gozo em ver gente na miséria a morrer de fome. Só para que fique registado.
Nélson,
«Como explica o próprio texto da Wikipedia e qualquer texto histórico minimamente avesso ao revisionismo, o Pinochet instaurou uma ditadura política onde a economia seguia modelos neoliberais»
Aquilo que chamas de neoliberalismo chegou ao Chile bem depois do Pinochet. O Chile viu muito Pinochet sem neoliberalismo. O que não viu foi democracia sem neoliberalismo. E a correlação não é espúria.
«Grande parte das medidas tomadas a nível económico são feitas para beneficiar a classe económica dominante, não os trabalhadores ou as populações (...) Desde a oferta de dinheiros públicos ao corte de direitos a pedido, tudo é feito para estes senhores. Os restantes, trabalhadores e desempregados, que se amanhem»
Acho estranho que um tipo que vê políticos corruptos e subservientes em tudo quanto é sítio defenda um sistema económico em que esses mesmos políticos teriam muito mais poder do que o que têm actualmente.
«Só um apontamento: Isso do crescimento económico tem o que se lhe diga, a Grécia tem vindo a crescer cerca de 3% nos últimos anos e entretanto aconteceu o que se viu, muito devido ao emprego precário e mal pago»
De onde se depreende que o melhor será crescerem 0% ou -1% e terem salários ainda piores e empregos mais precários, certo?
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