terça-feira, outubro 27, 2009

Novo Governo

Uma sindicalista no Ministério do Trabalho, uma artista no Ministério da Cultura, e professores universitários q.b. espalhados pelas funções. O Estado ao serviço das corporações.

15 comentários:

NJRT disse...

Escusas de te preocupar com a Helena André. Tenta conhecer o sindicalismo da UGT e cedo chegas à conclusão de que não há melhor amigo do patrão que o sindicalista da UGT.

Isto para não falar do sindicalismo europeu, onde esta senhora está desde 1992. Se não me engano a Confederação Europeia de Sindicatos aprovou a resolução da UE de aumentar o horário dos trabalhadores para 65 horas por semana, que acabou por não passar no Parlamento Europeu.

Bonita expressão, corporações. O fascismo era um regime corporativo em que os sindicatos nacionais existiam em todas as indústrias e os delegados sindicais eram escolhidos a dedo pelo patronato que controlava e manietava o aparelho do Estado.

Já é difícil acreditar na lenga-lenga de que somos todos "livres e iguais" só porque está escrito numa constituição, quando a realidade económica aponta para uma clara concentração de poder de decisão nas elites económicas.

Depois existem grandes desigualdades económicas e eis que surgem nos estúdios da televisão e nos "jornais de referência" uns economistas e politólogos de cartilha a culpar os "políticos" e o "Estado", exigindo "reformas" e "modernização", como se se pudesse reformar o irreformável e modernizar o que só se mantém de pé comportando-se como sempre se tem comportado.

O Estado tem de estar ao serviço e sob o controlo de alguém. Esse alguém são os trabalhadores, não os grupos económicos e financeiros.

Hugo Monteiro disse...

"Já é difícil acreditar na lenga-lenga de que somos todos "livres e iguais"...

...perante a Lei.

PR disse...

«realidade económica aponta para uma clara concentração de poder (...) Depois existem grandes desigualdades económicas»

Mostra isso com números, por favor.

«O Estado tem de estar ao serviço e sob o controlo de alguém. Esse alguém são os trabalhadores, não os grupos económicos e financeiros.»

Mas é todos os trabalhadores e não apenas os que são afectos à CGTP ou continuam a ler O Capital como se fosse uma bíblia, certo?

Pois bem: eu sou trabalhador e ordeno ao estado que me devolva os 50% de rendimentos que todos os meses me rouba indevidamente.

Nelson Ricardo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
NJRT disse...

Hugo: É o económico que define o social, não o jurídico. No actual sistema termos leis que digam sermos «livres e iguais» são pouco mais que declarações de livre intenção.

PR: Deixo-te um link relativo ao top de países com maiores diferenças entre ricos e pobres.

http://finance.yahoo.com/banking-budgeting/article/107980/countries-with-the-biggest-gaps-between-rich-and-poor

O Estado deve ser controlado pela totalidade dos trabalhadores, sem criar uma elite com capacidade de decisão superior ao colectivo.

P.S: Apaguei o comment anterior por causa de um erro, embora diga sensivelmente o mesmo que isto.

NJRT disse...

onde digo «livre intenção» quero dizer «boa intenção».

PR disse...

NJRT,

Esse link tem três problemas. O primeiro é não funcionar :)

O segundo é que não revela a evolução da desigualdade - que é o que é relevante para o teu argumento segundo o qual as desigualdades têm aumentado - mas sim os actuais níveis de desigualdade.

Podes consultar o Índice de Gini para ver como é que este indicador se tem comportado desde a XX Guerra Mundial*. Como se pode ver, as desigualdades não têm, em média aumentado. De facto, estão praticamente estacionárias.

O terceiro problema disto é que a desigualdade está altamente correlacionada com uma boa performance económica. Segundo o teu critério, a China está hoje pior porque é mais desigual (ou seja, há uma maior dispersão de rendimentos face à média).

Mas a verdade é que, em termos absolutos, há uma percentagem muito menor de chineses enquadrados na categoria de pobreza absoluta (= menos de um dólar por dia em). A riqueza está mais dispersa mas, em média, cada um é muito mais rico do que há 30 anos.

*http://en.wikipedia.org/wiki/File:Gini_since_WWII.svg

PR disse...

"Como se pode ver, as desigualdades não têm, em média aumentado. De facto, estão praticamente estacionárias."

Estive a ver melhor e as desigualdades até têm estado a cair. Em Portugal tem acontecido o mesmo, segundo os dados do INE.

PR disse...

«O Estado deve ser controlado pela totalidade dos trabalhadores, sem criar uma elite com capacidade de decisão superior ao colectivo.»

E se essa elite deixar de controlar o Estado podes garantir-me que o Fisco vai deixar de me roubar 50% do meu rendimento todos os meses?

Já agora, haverá algum país na históira que possa servir de exemplo a essa ideia de um estado regido por trabalhadores?

Hugo Monteiro disse...

"Já agora, haverá algum país na históira que possa servir de exemplo a essa ideia de um estado regido por trabalhadores?"

Isto não era a ideia dos Sovietes ou lá ou que era? Não me parece um exemplo muito espectacular, se queres que te diga, ó Nélson.

Hugo Monteiro disse...

Devo apenas acrescentar que esta ideia, para alguns negócios, não é má de todo. Na Argentina, algumas empresas que iam entrar em falência foram dadas aos trabalhadores e não se saíram mal. Ponderado caso a caso, até pode ser algo interessante.

PR disse...

Já agora, seria interessante que o Nélson prosseguisse o diálogo e desse resposta às objecções levantadas. E não recorrer ao método típico de mandar umas larachas aqui e ali e fazer tábua rasa dos argumentos já rebatidos em caixas de comentários mais antigas.

NJRT disse...

Relativamente aos exemplos de países com participação colectiva dos trabalhadores, as sovietes e (os sindicatos) durante grande parte da história da URSS foram locais de participação cidadã, embora por vezes não passassem de órgãos consultivos das decisões do secretário-geral.

Foi Iuri Andropov, quinto secretário geral do PCUS que quis aprofundar o peso das sovietes na gestão dos locais de trabalho. Isto numa altura em que a URSS estava a caminhar em direcção a uma democratização do país, mantendo o estatuto de Estado proletário.

Mas existem outros países. O socialismo joguslavo baseou-se muito na auto-gestão dos trabalhadores e teve bons resultados, recuperando da destruição causada pela ocupação nazi, vindo mais tarde a ter problemas com a crise petrolífera de 1973 e com a cedência às exigências do FMI.

Actualmente, a auto-gestão está a progredir na Venezuela, o Courrier Internacional do último mês tem um artigo sobre isso.

Relativamente à tua questão PR, o que os trabalhadores decidissem seria a decisão final a ser tomada, embora gostasse de ver qual a opinião de toda a classe trabalhadora sobre entregar sectores da economia à competição da propriedade privada e ao corte de benefícios públicos.

Na California referendou-se este ano um corte das ajudas públicas e foi rejeitado.

PR, quando falei das desigualdades económicas referi-me a Portugal.

Mas j+a que falas do globo, há que apontar que parte do mundo tem vindo a recuperar de ditaduras militares, fascismos e guerras civis ou com origem externa. Não admira que haja alguma recuperação, mas o facto de ficar estacionária, como tu próprio disseste, pode ser indicador que o "motor" já não pega mais.

Hugo Monteiro disse...

Nelson:

"Na California referendou-se este ano um corte das ajudas públicas e foi rejeitado."

Ainda está para vir o dia que o povo há-de votar favoravelmente alguma coisa relacionada com mais deveres ou menos regalias como aumentar os impostos ou subir o horário de trabalho :P

PR disse...

NJRT,

«Actualmente, a auto-gestão está a progredir na Venezuela, o Courrier Internacional do último mês tem um artigo sobre isso.»

Sobretudo a auto-gestão do comandante Hugo Chávez. É um caso de sucesso porque não se faz sentir apenas na economia mas também nos media e na política. É só auto-gestão por ali fora.

Mas compreendo o elogio é necessariamente relativo. Quem olha para a Juguslávia e Rússia socialistas como modelos a seguir só pode ficar eufórico com os resultados na Venezuela :)

«PR, quando falei das desigualdades económicas referi-me a Portugal.»

Em Portugal as desigualdades também têm diminuído. Podes comprovar aqui: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=72009200&DESTAQUESmodo=2

«Não admira que haja alguma recuperação, mas o facto de ficar estacionária, como tu próprio disseste, pode ser indicador que o "motor" já não pega mais.»

Pois, pois. Primeiro as desigualdades cresciam e obrigavam à revolução. Depois estão estacionárias e é o motor que já não pega. Daqui a bocado estão a descer mas "de certeza que vão continuar a subir".