Madrugada. A noite, também ela, era já uma memória. A cidade, ainda escura, subsistia na esperança de que as nuvens, carregadas, parassem de a importunar. Luzes cambaleantes com o sono persistiam ainda no seu dever, esperando que o Sol chegasse ao emprego. Alguns autocarros passaram com intento dentro de si: vontade de trabalhar. Tudo estava corriqueiro neste primeiro de Março.
Tudo excepto aqueles três. Estava frio, frio a que estavam mais expostos pois tinham crescido um pouco mais nessa noite. Iam diferentes, não agiam programados. O livre arbítrio tem destas coisas. Sensações conscientes, memórias partilhadas. Caminharam cientes que um rumo deixa um rasto, um legado, escrito nos sentidos. Recordavam quem eram e quem ali faltava, os temporariamente omissos, ausentes apenas fisicamente. Lembranças que valem ouro, mas que são prata para matar certos vampiros e lobisomens. Uma alma virtuosa não é abatida com facilidade, assim como as amizades.
Um deles iria partir
Neste trecho do Este encalham os momentos passados.
Para lá daquela ponte só passam noções de sucesso e fracasso.
Nem tudo se perde.
A areia fica.
A água e as suas sementes partem,
Ânsia de colónias.
Noivas em terra, defuntas.
Os marinheiros ficam,
Os marinheiros vão.
Para lá do Este ficam as aventuras,
Todas elas por estrear.
E a areia, fina, vai indo, aos poucos,
Com os descobridores de novos mundos.
Há um novo rumo,
E uma despedida,
Para quem vai para lá do Este,
À descoberta de um Oriente.
4 comentários:
A promessa do regresso torna a espera mais longa e contudo, mais suportável, deixo também aqui as minhas despedidas a um amigo que temos em comum, e que voltes depressa a Braga.
Sensibilizado... Obrigado!
Gostei!!
Está moving!!
A parte inicial está particularmemnte bem conseguida!
xxx
rabetagem a dizer: "Presente!!!"
Francisco
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