segunda-feira, agosto 25, 2008

Agora é que a porca torce o rabo

«Socialismo significa justiça social e igualdade, mas igualdade de direitos, de oportunidades, não de rendimentos»

-Raul Castro, presidente de Cuba, preparando os cubanos para uma redução geral dos subsídios governamentais; in Time.

Pois. Era o que me tinha parecido.

26 comentários:

Paulo Lopes Silva disse...

Do que estavas a espera vindo de Cuba? Socialismo como deve ser? Aquilo é uma ideologia própria adaptável ao longo dos tempos aos interesses da família Castro. Mas é o primeiro passo. Depois vem a revolta social, depois o Raul Castro acaba por ceder, ou mesmo falecer, e depois vem o capitalismo selvagem made in USA, abrir casinos e resorts para turistas.

Qual o pior?

Hugo Monteiro disse...

Aquele em que as pessoas são livres.

Hugo Monteiro disse...

Aliás, um pouco de «capitalismo selvagem» não fazia mal aquela gente.
Se comparares o IDH com o IEF, vais reparar que muitos dos primeiros 20 lugares são coincidentes.

NJRT disse...

eu não percebo é o açambarcar que os capitalistas fazem da palavra liberdade. Privatizar(liberalizar) um serviço é já à partida impedires os cidadãos de recorrerem a esses serviços a não ser que possuam dinheiro para isso, isso não é dar liberdade a ninguém, é dar asas ao mercado livre. Depois essas pseudo-liberdades(que são mesmo pseudo, porque só beneficiam os ricos) dão nas crises de subprime, que foi exactamente o quê? Foi entregar a decisão da quantidade de juros por empréstimo na Banca em vez do Estado, depois tens a classe média americana a ser posta fora de casa pelos líderes do tão afamado Mercado Livre(em Los Angeles, já são 73 mil os desalojados). Ou então tens o famoso caso do «melhor sistema de saúde do mundo», tal como disse o presidente Bush sobre o sistema de saúde americano, em que 45 milhões de pessoas não têm seguro de saúde e muitos mais milhões têm-no muito pobre. Agora junta a necessidade absoluta de ter um emprego para obter um seguro de saúde, ao estatuto liberal do trabalhador na América em que se pode ser despedido porque o patrão diz que sim. Tens um sistema onde os trabalhadores são marionetas dos patrões, onde se os patrões lhes pedem para trabalhar 15 horas por dia eles têm de o fazer ou correm o risco de serem despedidos e ficarem sem seguro, até porque esse despedimento pode vir a ser verificado pela próxima empresa que tentar empregar essa pessoa e se notar que ela não gosta de ser tratada abaixo de cão é capaz de não lhe contratar e continua sem seguro e quiçá, sem dinheiro pra comer, nem pra pagar a casa com altíssimos juros. Agora junta a essa situação as crises constantes do capitalismo que deitam sempre mais uns para o desemprego e tens uma grande parte da população, pelo menos aquela que trabalha por conta de outrem, sem qualquer tipo de liberdade no local de trabalho a não ser para seguir qualquer ordem vinda do patrão.

Dar asas ao Mercado Livre não é, no meu ver, dar liberdade aos cidadãos, é dá-la a quem tem dinheiro e logo aí começas a hierarquizar a sociedade em mestres e subordinados. Todos dependentes do que vai na cabeça de quem está por cima deles na cadeia económica.

Hugo Monteiro disse...

1º Liberalizar e privatizar são palavras com significados distintos: privatizar é tornar privado e liberalizar é tornar livre, acessível.

2º Todos os serviços custam dinheiro. Nada é grátis. As empresas de produção nacionalizadas têm muitos problemas: tendem a ser menos eficientes para o consumidor que as privadas, abusam do poder bloqueando o mercado (a PT e a rede fixa, por exemplo), costumam ser beneficiadas e protegidas pelo Estado que as controla (a EDF, por exemplo, anda a tentar comprar companhias eléctricas espanholas, apesar de ninguém a poder comprar, aproveitando-se de ter um mercado privilegiado para ter enormes lucros) e servem, não poucas vezes, para albergar tachistas.

3º Caso não saibas, os juros mínimos são decididos por um banco central, neste caso a FED. O controlo das taxas de juro serve, entre outras coisas, para regular o investimento, o consumo e a inflação, mas só o consegue fazer até certo ponto. Nenhum banco central é omnipotente. Sem esquecer que os seus administradores são (ou devem ser) independentes do poder político.

4º Como sabes, nenhum sistema é perfeito. De tal forma, os mercados sofrem oscilações. Existem várias perspectivas, neste caso. Alguns defendem que o estado deve intervir mais para evitar crises, enquanto outros acham que as crises são causadas por estas intervenções. O problema é que é muito difícil descobrir quem tem razão, principalmente porque as políticas que incidem em certos aspectos da economia não são estanques a factores externos.

5º Uma coisa que me aflige é as pessoas apontarem os EUA quando se fala em capitalismo, mas fugirem logo à conversa quando, invocando o socialismo ou o comunismo, se indica a União Soviética ou a Coreia do Norte. Porque é que ninguém se lembra da Irlanda, por exemplo, tendo em conta que as liberdades económicas lá são ainda maiores que na América?

Paulo Lopes Silva disse...

"1º Liberalizar e privatizar são palavras com significados distintos: privatizar é tornar privado e liberalizar é tornar livre, acessível." Acessivel por quem tem mais posses a maior parte das vezes. Já reparaste que os hospitais privados, são mais caros que os serviços do estado?

O estado liberaliza um serviço, os privados podem começar a competir por fazê-lo ou seja o serviço acabou de ser privatizado? Não são a mesma palavra, uma pode existir sem a outra, mas em termos de resultados....

Hugo Monteiro disse...

Normalmente, o termo liberalizar está relacionado com preços e produtos. Liberalizar costuma estar relacionado com a cedência de controlo de preços (preços tabelados) ou do nível de oferta (racionar).

Dizer que os serviços privados são mais caros que os públicos é quase como dizer que o céu é azul porque não é vermelho. O serviço estatal já está financiado à partida, mesmo antes de se utilizar o serviço. Se os incentivos fossem correctamente aplicados, como dar prémios aos administradores por cumprirem os objectivos e pouparem (prometer-lhes metade do dinheiro que poupassem), a gestão hospitalar seria muito mais eficiente. Porém, o que se vê são casos de gestores que, após pouparem uma quantia considerável, vêm essa quantia ser removida do financiamento do ano seguinte. Poupaste, lixaste-te. Podes explicar-me como é que isto promove os bons serviços? Parece-me uma miragem.

Hugo Monteiro disse...

Privatizar significa tornar o público privado. Liberalizar foi, por exemplo, o preço dos combustíveis.

Tiago Laranjeiro disse...

Há aqui uma outra questão: o Estado, antes de privatizar determinada empresa/serviço, detém, habitualmente, o monopólio desse mercado. Liberalizando, normalmente, abre a porta a que privados (mais do que um) entrem no mercado, competindo. E ao tentarem competir, vão optimizar o serviço/produto e o seu preço. Raramente dá mau resultado... Ao privatizar, liberaliza a produção/prestação do serviço.

Já Adam Smith, o pai do liberalismo, explicava bem isso.

Hugo Monteiro disse...

Tiago:

Eu nem sequer peguei por aí para não virem dizer (como já aconteceu) que as minhas ideias se baseiam numa determinada perspectiva da Economia. Também, sendo Francisco Louçã um doutorado em Economia, quem sou eu, reles ignorante, para se debruçar sobre algo tão excelso como as teorias económicas? :P

Tiago Laranjeiro disse...

Compreendo-o...

Francisco Louçã é doutorado em economia, logo um estudioso da ciência económica. Não quer dizer que as soluções por ele propostas para o problema económico sejam as melhores, ou sejam sequer viáveis fora do papel... :D

NJRT disse...

sim, porque o capitalismo com as suas crises de dez em dez anos funciona que é um mimo, aliás, os actuais 4700 milhões de pobres no mundo são prova disso- e sim, são culpa do capitalismo porque neste momento todas as economias se vergam a este sistema, não importa qual o governo que esteja no poder.

Eu quero que me digam uma coisa...a precariedade laboral continua a crescer, caada vez mais os trabalhadores são puxados aos limites por empresas que movidas pelo interesse próprio dos patrões, exploram os seus empregados e ficam com parte maioritária da riqueza gerada por ele.
Ora, temos uma sociedade de trabalhadores sobre-explorados e sub-assalariados, relativamente ao que estes produzem. Como é que isto é bom? Onde é que isto dá liberdade a não ser a quem já tem dinheiro e a quem não é dependente de outrem para assegurar o emprego?

Como é que podem negar a condição dos trabalhadores e depois dizer que vivemos num regime livre?

Anónimo disse...

Caro njrt,

Apesar de todos os problemas que lhe diagnostica, o capitalismo continua a ser o melhor que conseguimos encontrar.

Senão vejamos... É ou não verdade que o nível de vida em todo o mundo nunca foi tão alto como actualmente, com o capitalismo a vigorar em 90% das nações? É ou não verdade que, apesar de todas as discrepâncias e fossos entre ricos e pobres, os pobres vivem melhor agora que há 100 ou 200 anos? É ou não verdade que hoje, mesmo nos países mais pobres, a esperança média de vida, a alimentação e a saúde é melhor que há um século atrás?

Eu não tenho dúvidas que sim.

Hugo Monteiro disse...

Nélson:

Todas as economias "vergam-se" ao capitalismo? Diz-me lá em que países não-capitalistas é que há menos pobres do que nos países capitalistas. Em Cuba? Na Coreia do Norte? No Nepal? Não podes estar a falar a sério.

NJRT disse...

ok, o problema da Coreia do Norte, além do idiota que a governa, é o facto de ter sido atacada por uma superpotência e ter perdido o apoio e ajuda da União Soviética(por esta se ter desmembrado) e da China(por esta se ter virado para a economia de mercado). A Coreia do Norte já foi mais feliz do que era agora, não tinha problemas de fome devido a uma agricultura altamente industrializada cuja ajuda das antigas potências comunistas lhes providenciavam combustíveis fósseis subsidiados.

A partir do momento em que ficaram sozinhos estes têm experimentado dificuldades e fome, muito por culpa do governo que prefere alimentar bem o exército, com cerca de um milhão e duzentos mil efectivos.

É muito inteligente estar a apontar o Nepal como nação pobre agora que um comunista foi....eleito, mas o Nepal até 1990 era uma monarquia absoluta e só a partir daí ocorreu a sua democratização e a economia tem vindo a crescer a 5% ao ano, sendo que 90% da população se dedica à agricultura e cultivo do arroz.

Cuba...bem...eu vou pôr aqui um excerto de um artigo do Avante sobre o bloqueio a Cuba:
«Através de um documento desclassificado em 1991, ficou a conhecer-se que a 6 de abril de 1960, o então subsecretário de Estado adjunto para os Assuntos Americanos, Lester Dewitt Mallory, escreveu num memorando discutido numa região dirigida pelo presidente dos Estados Unidos John Kennedy: Não existe uma oposição política efectiva em Cuba; portanto, o único meio previsível que temos hoje para alienar o apoio interno à Revolução é através do desencantamento e do desânimo, baseados na insatisfação e nas dificuldades económicas. Deve utilizar-se prontamente qualquer meio concebível para debilitar a vida económica de Cuba. Negar dinheiro e abastecimentos a Cuba, para diminuir os salários reais e monetários, a fim de causar fome, desespera e a derrocada do governo
As barbaridades perpetradas pelos sucessivos governos americanos causaram durante 45 anos um prejuízo de 222 mil milhões de dólares aos cubanos.

Pobreza existe também na Bolívia, cujas reformas de Evo Moralez estão a ser boicotadas pela direita e pelas elites que controlam os recursos do país; ou no Brasil, que
tem cerca de 60 milhões de pobres, após 8 anos de direita que tudo liberalizou e privatizou, mesmo os riquíssimos recursos naturais do país; ou na Argentina que tem no mínino 30% da população pobre e que a presidenta Kirchner quer ocultar.

Sem esquecer a Colômbia, um país com uma direita proto-fascista no poder, em que cerca de 50% da população vive abaixo do nível de pobreza.

Tiago Laranjeiro disse...

Eu não acredito que está aqui escrito aquilo que leio...

Na China o nível de vida tem vindo a aumentar de forma incrível. No Brasil, apesar das discrepâncias, vive-se melhor hoje: já não há as crises monetárias de há uns anos e a economia cresce a um nível óptimo. É um país que se vem afirmando a nível internacional e ganhando preponderância.

Quanto a esses memorandos, todos nós sabemos como são os americanos; temos de ver esse memorando à luz do ambiente que se vivia na altura: em plena guerra fria, com uma séria ameaça que existia naquela ilha para a segurança norte-americana.

Pobreza sempre existiu e sempre existirá, infelizmente. Ou na URSS não havia pobres?

Já agora, pode-me dizer onde está disponível esse memorando? Gostava de lê-lo na íntegra.

Hugo Monteiro disse...

Eu não desculpo os EUA. Dou-te o exemplo da Irlanda e da Islândia que são países capitalistas (e muito). Diz-me um país comunista que seja rico.

"A Coreia do Norte já foi mais feliz do que era agora, não tinha problemas de fome devido a uma agricultura altamente industrializada cuja ajuda das antigas potências comunistas lhes providenciavam combustíveis fósseis subsidiados."

Incrível. Isto acaba de confirmar que eles não se safam sem ajuda externa. Ou seja, que o comunismo é uma farsa insustentável.

Também és da opinião, tal como os defensores de diversos ramos do Marxismo, que o comunismo só funciona se for instalado em todo o mundo?

Resumindo: o comunismo funciona se for aceite em todo o lado, for orientado por pessoas "de bem", as pessoas se portarem direitinho, o bom senso imperar entre todos os seres humanos e as contas baterem todas certas. Trocando por miúdos: se tudo for perfeito o comunismo funciona. Também costumo dizer que se a minha avó tivesse rodas, era um autocarro. :P

Hugo Monteiro disse...

Nélson, lembrei-me de outra coisa bestial:

Estás a falar daquela Cuba em que os Soviéticos tentaram pôr lá misseis nucleares apontados aos EUA? Porque será que aquela gente não se dá?...

NJRT disse...

Uma breve resposta aos dois, que agora tou um bocado ocupado.

Tiago: O memorando está na edição do jornal «Avante» de 21 de Agosto.

Hugo: O comunismo funcionou na União Soviética e funciona em Cuba, apesar do sufoco dos EUA. Já agora, a União Soviética desmembrou-se, não colapsou, devido aos movimentos independentistas das suas repúblicas. Um golpe de estado levado a cabo pelo KGB em Agosto de 1991 foi a golpada final na União Soviética.

Ainda ontem a SIC passou uma reportagem sobre imigrantes de leste diplomados em medicina que estão a trabalhar em Portugal(na construção civil) e um ucraniano disse que uma das razões de ter imigrado para cá foi porque enquanto no tempo da URSS havia um certo nível de vida, após a independência do país, esse nível de vida desapareceu para dar asas à pobreza.

Segundo, quem apoiava a Coreia do Norte eram países comunistas e os ditos pobres destes países tinham direito a Água, Energia, Habitação, Saúde e Educação gratuitas. Em muitos países capitalistas, só os ricos têm direito a estes serviços. Além disso, os pobres comunistas tinham alimentos subsidiados e apoio do Estado aos jovens casais

Já agora, na "democrática" União Europeia, uma Constituição está a ser ratificada sem consulta do povo, exceptuando na Irlanda-a campanha do Não feita pela esquerda- onde foi rejeitado.
Foi também aprovado por unanimidade o aumento do horário semanal para 65 horas e estão a tentar impingir em Portugal uma revisão do código laboral que quer dar ao patrão um maior e mais flexível poder de despedir o trabalhador, fragilizando ainda mais a sua posição.

Eu não acredito que o Comunismo tenha de ser aceite mundialmente, mas quando a maior parte dos países deixa o mercado "livre" tomar conta da vida dos seus cidadãos, é muito dificil para um ou dois países implantarem o comunismo sem receberem sanções económicas, embargos ou serem bombardeados pelos EUA.

Já agora...uma lista dos países com mais igualdade e inequidade social - http://www.infoplease.com/ipa/A0908770.html

Levantando outra questão, desta vez sobre Adam Smith e o seu capitalismo, vou colocar aqui duas citações tiradas de dois sites sobre o Capitalismo actual. Tenho de avisar que um deles é uma imitação cómica da wikipedia, contudo parece-me fazer uma crítica algo interessante do sistema económico actual:

«To have a "free market" there must be (1) "perfect competition" (no buyer or seller can unilaterally influence the market); (2) "perfect knowledge" (all buyers and sellers have the same information); and (3) "perfect mobility" (all buyers and sellers can move to where they have the greatest competitive advantage). Since this does not exist in the US or any other country, no country truly has capitalism.»

agoraa, na wikipedia, uma critica do Chomsky ao actual capitalismo, afirmando não seguir a teoria de Adam Smith e o seu mercado livre na totalidade:

«Noam Chomsky has argued[78] that several aspects of Smith's thought have been misrepresented and falsified by contemporary ideology, including Smith’s reasons for supporting markets and Smith’s views on corporations. Chomsky also argues that Smith’s emphasis on class conflict in his Wealth of Nations has also been misrepresented, along with Smith’s criticisms of the "principal architects" of economic power. Chomsky argues that "By removing Smith's emphasis on the basic class conflict, and its crucial impact on policy, we falsify his views, and grossly misrepresent the facts, though constructing a useful instrument to mislead in the service of wealth and power".[79][80][81] Chomsky argues that Smith supported markets in the belief that they would lead to equality.[82]»

Sobre o perfect knowledge e o perfect mobility ñ estou seguro, mas a perfect competition encontrei resultados na net. Elucidem-me.

P.S: Pouco me importam os misseis nucleares apontados aos americanos, eles foram os demónios que as utilizaram. Agora eles estão a sufocar na totalidade a economia de Cuba, por isso é um bocado contra-producente afirmar que o comunismo lá não trabalha.

Rui Afonso disse...

Não vou alimentar a discussão, Nelson. Resta-me dizer que a minha alma está parva.

Hugo Monteiro disse...

Hum... Estou a ver. Os países comunistas funcionam. Só há aquelas execuções de pessoas porque é preciso espectáculo para entreter um cenário tão perfeito.

É curioso citares Chomsky. Ele tem uma característica em comum com o Marx: nenhum deles tem formação em economia. Aliás, nas teorias marxistas há uma falha grave: eliminou-se o factor "preço" sem apresentar alternativa. Como é que geres os recursos? Foi o que me pareceu.

Continuo sem perceber a fixação nos EUA. Não estou a discutir política internacional, mas sim capitalismo. O problema é que a maioria das pessoas fala em coisas sem saber o que é.

A igualdade de rendimentos não significa nada. Falar em falta de bens essenciais nos países desenvolvidos é uma barbaridade. Aqui as pessoas podem passar mal mas não andam a morrer
à fome pelos cantos. Pelo menos a enorme maioria não anda.

Além disso, continuo sem perceber porque é que os líderes desses países, já que são tão boas pessoas, continuam a perseguir, censurar e executar dissidentes.

«To have a "free market" there must be (1) "perfect competition" (no buyer or seller can unilaterally influence the market); (2) "perfect knowledge" (all buyers and sellers have the same information); and (3) "perfect mobility" (all buyers and sellers can move to where they have the greatest competitive advantage). Since this does not exist in the US or any other country, no country truly has capitalism.»

Há aqui um erro crasso. Essas condições seriam necessárias para ter um mercado "perfeito", da mesma forma que eu, quando estudava electrónica, comecei por realizar exercícios em sistemas ideais, sem perdas. Os economistas começam por estabelecer um mercado perfeito e depois vão adicionando as "imperfeições". A ideia é tentar cumprir estes requisitos (ter o máximo de informação, competição e mobilidade possíveis) para obter um mercado próspero.

NJRT disse...

Ruca: a cada um a sua liberdade de expressão, eu tenho a minha que a baseio em coisas que li em jornais, livros, internet ou vi na televisão.

esta é a lista actual de países que se consideram comunistas: http://en.wikipedia.org/wiki/Image:Communist_States.png

China, Cuba, Coreia do Norte e...?

Ora, tendo em conta que em todo um rol de nações à volta do mundo só 4 se consideram comunistas(e mesmo a China já tem mais tiques capitalistas que alguns outros países com tradição neste sistema económico), quer dizer que todos os outros países, não sendo completamente democráticas, entram e participam no sistema capitalista e na economia de mercado.
Ora...citando um livro que tenho por aqui...

«Não obstante estas mutações e os significativos avanços nas ciências, na medicina, na produção industrial e alimentar, e até na luta pelos direitos cívicos e sociais, acaso será razoável falar de uma sociedade mundial mais justa e equilibrada?
A resposta convincente a esta questão parece-me repousar na seguinte realidade: de uma população mundial de 6000 milhões de pessoas, 4700 milhões são pobres e mais de 1000 milhões sobrevivem com menos de um dólar; outra parte, num total de 2700 milhões, vive com dois dólares. A este drama de pobreza extrema juntam-se os doentes por fime e desnutrição, estimados em 840 milhões, dos quais 300 milhões são crianças.»

- Carlos Pacheco in «O Estado do Mundo», pág.18, 2ª edição, Fundação Calouste Gulbenkian.

Já agora, sou contra o capitalismo, mas não sou contra a democracia, acredito que uma verdadeira sociedade democrática é aquela em que os cidadãos desta se envolvem intensamente nas decisões dos seus municípios, regiões e nações. Uma democracia levada a cabo pelos cidadãos e não apenas por uma minoria eleita por ela.
Se há coisa que mais fere a democracia é a promiscuidade que existe entre os líderes do sector privado e do sector político, como a recente nomeação do Jorge Coelho para a Mota-Engil ou a curiosa duplicação da fortuna do grupo Américo Amorim desde que Sócrates chegou ao poder.
Considero o capitalismo anti-democrático porque eventualmente este acaba por acumular os recursos e a sua distribuição em pequenos grupos, impossibilitando a parte da população mais pobre de aceder a esses recursos.

Mais duas coisas que nunca me canso de repetir neste post e em todas as conversas que terei sobre este tema:
- Uma instituição pública é movida pelo interesse público, uma instituição privada é movida por interesse próprio;
- Quem produz a riqueza de um país são os trabalhadores e muitas vezes estes são alvos das maiores velhacarias, actualmente, são os privados que os maltratam constantemente negando-lhes direitos e um trato humano.

Tiago Laranjeiro disse...

NJRT:

1) o modelo de mercado perfeito que citou foi elaborado em Inglaterra no final do século XVIII. Estamos em 2008.

2) Eu tinha pedido a fonte, não o local onde estava divulgado... O Avante é tudo menos imparcial e faz a leitura que quer dos acontecimentos, muitas vezes deturpando-os.

3) Na URSS tinham um certo nível de vida que, com a queda do muro de Berlim e consequente desmembramento, caiu. Esses países ainda não retomaram o seu rumo, ou também defendes que a oligarquia da Rússia é um exemplo de capitalismo e de um mercado livre?

4) Não foi só a esquerda europeia que fez a campanha do não na Irlanda, ao Tratado Europeu. Grande parte da direita está também contra ele. E já agora, nem só na esquerda há eurocépticos.

Mas já estou como o Rui Afonso: decido-me a terminar aqui a minha participação na discussão. E também a minha alma está parva...

Hugo Monteiro disse...

Bolas. Fiz um comentário quilométrico e não está aqui. Com o sono devo ter carregado no sítio errado. Quero só frizar que vou expôr um trabalho que fiz sobre a história do Jorge Coelho e da Mota-Engil no meu próximo post.

NJRT disse...

Ok, Hugo, fico à espera para lê-lo, quer seja desmentido ou confirmado o que tenha dito estou sempre disposto a aprender algo novo.

De resto, abstenho-me de contra-argumentar seja o que for. Não quero aparvalhar mais almas nenhumas.

Anónimo disse...

o sistema perfeito nascerá quando os homens forem TODOS justos e bons uns para os outros. Entretanto, escolham o regime que quiserem, da esquerda à direita, que haverá sempre exploradores e explorados, vigaristas e malta vigarizada, cidadãos de 1ª e 2ª, enfim...

Falha