quinta-feira, maio 14, 2009

Escolhas (actualização)

Sou forçado a discordar do Pedro Morgado neste assunto. Há aqui dois problemas que lhe são subjacentes. 

Primeiro, acho que deve existir alguma espécie de moderação neste tipo de estabelecimentos. Mas, como diz o povo, cada um é como cada qual, e os alunos (e os seus pais) deviam ser capazes de optar pela escola que fosse mais do seu agrado, não só pelos planos curriculares, mas também pelo conjunto de regras que lá fossem aplicadas.

Deixo aqui um exemplo curioso destas práticas, transcrevendo uma notícia que saiu no Courrier Internacional deste mês (Maio 2009):

Deitar tarde e tarde erguer

Acabaram-se os adolescentes que vão para as aulas cabecear! No liceu de Monkseaton, na Inglaterra, as aulas vão começar às 11 horas, se o director obtiver luz verde do conselho directivo do estabelecimento. O relógio biológico dos adolescentes é diferente do dos adultos, defende Paul Kelley, apoiando-se no trabalho de um investigador de Oxford, Russel Foster. Este professor de neurociências testou a memória de 200 alunos, entre as 9 e as 14 horas, revelando que os jovens são mais eficientes de tarde do que de manhã, informa THE OBSERVER. «Se os adolescentes se levantam de tarde, não é por serem preguiçosos, mas porque biologicamente estão programados para tal», afirma. Arrancar os liceais dos braços de Morfeus é prejudicar a sua aprendizagem, consideram o cientista e o director iconoclasta, cujos alunos obtiveram, em Janeiro, resultados espectaculares numa prova de ciências, em que se intercalavam períodos de trabalho de 20 minutos e intervalos de 10 minutos consagrados ao basquetebol.

Segundo, julgo que o sistema funcionaria melhor se cada escola pudesse escolher as suas normas de conduta. Porém, estou perfeitamente ciente que isto não seria muito justo porque a capacidade de escolha dos alunos, nas escolas públicas, é muito limitada e, por vezes, viciada. Este tipo de imposições, definidas arbitrariamente pelo conselho executivo, com pouca ou nenhuma representatividade dos encarregados de educação/alunos,  serviria apenas para saciar os caprichos de meia dúzia de arautos da moral e bons costumes, como refere o Pedro, e bem. Mas também não posso concordar que um pedido de sobriedade numa sala de aulas possa ser apontado como um tique fascista.

Resumindo: parece-me que o problema reside mais na falta de escolha, na altura de decidir por uma escola, do que as regras em si.

4 comentários:

NJRT disse...

De uma vez por todas devia-se começar a reparar e a aplicar os estudos que resultam da investigação científica.

Quanto à ideia de liberdade de escolha, conhecendo os liberais como conheço, é outra liberdade que vai tão longe quanto os bolsos das pessoas.

Hugo Monteiro disse...

"Quanto à ideia de liberdade de escolha, conhecendo os liberais como conheço, é outra liberdade que vai tão longe quanto os bolsos das pessoas."

Não é isso que acontece agora? Os ricos vão para escolas privadas de topo e os pobres vão para escolas públicas em Rilhafoles a cair de podres?

Além disso, atirar logo com um preconceito à cara das pessoas não é a melhor maneira de começar uma discussão, Nélson...

Pedro Morgado disse...

Hugo,

Quando eclodiu a questão da loja do cidadão de Faro eu não disse uma palavra. Concordo que uma empresa (pública ou privada) prestadora de serviços possa definir as regras de indumentária a que os seus trabalhadores devem estar sujeitos.

Contudo, a escola é uma estrutura de e para a comunidade que não pode, de forma alguma, revelar-se castradora ou segregadora da diferença. O limite entre o pedido de sobriedade e a falta de respeito pelo direito à opção é demasiado ténue para poder ser aceite. O que me parece consensual é que os genitais devem estar tapados. Quanto ao resto, entramos no capítulo do gosto. E gostos não se discutem.

Hugo Monteiro disse...

Pedro

Eu sugeri, no post, que tanto escolas como alunos tivessem liberdade de escolha. Assim cada um fica com o que quer. Afinal, em princípio, os pais querem o que é melhor para os seus filhos, salvo algumas excepções.