terça-feira, novembro 18, 2008

A Esquerda Inocente e a Direita Papão: um Conto Português

Dei de caras com esta posta de pescada no 5 Dias. Todos os lugares-comuns opinativos sobre como a Esquerda portuguesa vê a Direita (toda, porque a portuguesa é uma piada foleira) foram usados, estando quase certo que terão ultrapassaram alguma quota imposta pela UE.

Algumas pérolas:

says:
axo k o socrates e mau e é um apolitico
says:
talvez ainda pior k o durao e o cavaco e seguramente pior k o guterres


Não queria estar aqui a atirar lama ao ar, mas isto parece-me um franco exagero. Pior que António Guterres, só mesmo Santana Lopes. Mas isto é lá com cada um.

says:
é possivel tu prosseguires uma politika sensata e coerente e correcta de direita de centro e d eskerda
Filipe says:
pois, aqui estamos em desacordo
Filipe says:
uma política de direita é sempre má
Filipe says:
acho as políticas do sócrates boas
Filipe says:
logo não podem ser de direita
Filipe says:
estarei a ser infantil?

Resposta: sim.


Filipe says:
que introduzir propinas no superior era meio caminho andado para privatizar
Filipe says:
quem as aumentou?
says:
o psd

Também achava maravilhoso que toda a gente pudesse ter a educação que quisesse à borliu. Há um problema apenas: a realidade.


Filipe says:
mas já agora diz-me lá onde é que o ps está “a privatizar um bocadinho” a saúde ou a educação?
says:
na saude n está
Filipe says:
educação. lurdes rodrigues
says:
na educação sou contra o novo modelo d gestao com participação da ’sociedade civil’ leia-s empresas


A sociedade civil é parte integrante dos modelos de gestão das escolas em países (mais) desenvolvidos. Ainda outro dia estava uma ex-funcionária do Ministério da Educação da Nova Zelândia a falar disso. Países como a Dinamarca têm um sistema semelhante. E não, não se lê "empresas".

Para finalizar:

Filipe says:
eu sou um centralista

Não me parece.



18 comentários:

NJRT disse...

Curioso falares na Dinamarca, é que não só o ensino superior é gratuito como o Estado até dá dinheiro aos bons alunos para continuarem a estudar. A gratuitidade aplica-se também ao sistema de saúde.

Um conselho. O mundo político não se divide em espectros maniqueístas. Existe mesmo centros, direitas e esquerdas e várias variações dentro destes, liberais, conservadores, extremistas, moderadas, etc.

A tua análise política peca por falhares ver essa variedade dentro dos ideiais políticos e por apontares «conservador» a quem quer que tenha ideias diferentes dos adeptos do Mercado Livre, como se o tivesses a insultar. Os partidos e as ideologias abrangem mais que a economia.

Falando em realidade...cada vez que um adepto do Mercado é confrontado com as enormes falhas deste sistema,argumentam sempre com regras económicas matemáticas e bem delineadas. E chamam aos comunistas utópicos.

Hugo Monteiro disse...

Estás a fazer confusão outra vez. Eu não considero todas as políticas de Esquerda erradas. Difícil é conseguir um entendimento com quem tem a posição contrária e ainda admite que é "centrista", o que é claramente uma mentira. Dizer que qualquer privatização é má é tão extremo como o seu contrário.

E não, não lhe chamei conservador.

NJRT disse...

mea culpa: estava a comentar este post mas também tinha em mente aquele que fizeste sobre o PNR, que não tive oportunidade de comentar quando estava acabado de postar.

Agora...não sabia que consideravas algumas políticas de esquerda aceitáveis, pelo que lia dos teus textos localizava-te politicamente na vertente libertária do liberalismo.

Não me deu a entender no teu post que estavas a criticar o centristas de esquerda, ou supostos centro-esquerdistas. Mas que os existe, existe, o Mário Soares foi um, o Guterres foi outro, o centro esquerda sempre existiu em Portugal e tem sido o maior entrave à verdadeira esquerda, mais do que a própria direita.

Hugo Monteiro disse...

Nélson:

Mentaliza-te de uma coisa: não há verdadeiras Esquerdas ou Direitas. Há ideologias que, consoante as posições que adoptam, são encaixadas nos respectivos lugares. Os países nórdicos são casos extraordinários de progresso: eles têm economias fortes e um Estado forte. Mas aí o Estado só age até onde precisa. Os pais podem escolher as escolas dos filhos, mesmo que têm pouco dinheiro. Por cá, em nome da igualdade e do estado previdência, fazem-se escolas foleiras para os pobres e chamam-lhe justiça social. Eu chamo-lhe uma grande treta.

NJRT disse...

Eu não acho que a Esquerda seja sinónimo de controlo estatal da economia. As mais importantes ideologias de esquerda (Socialismo, Comunismo e algumas formas de Anarquismo) têm uma coisa em comum, o controlo das populações e dos trabalhadores dos meios de produção e distribuição da riqueza. Essa, na minha opinião, é a verdadeira esquerda, a que está do lado dos trabalhadores e dos cidadãos de forma indiscriminada e igualitária.

O problema das escolas privadas é que elas custam um balúrdio por mês a quem quer educar os seus filhos lá, mas devido ao enorme financiamento que estas instituições educativas recebem, têm mais capacidade de modernização e de proporcionar um melhor ensino aos seus alunos.

Agora, é uma questão de perguntar: quais são as famílias portuguesas que conseguem gastar 300 euros por mês para pôr 1 filho a estudar numa escola privada?


E ao aplicares a privatização ao ensino superior, estás a criar um acesso à educação restrito a uma elite e o resto que teve o azar de andar em escolas menos reputadas entra logo a "perder" no mercado de trabalho.

a Igualdade e a Justiça Social, se existem por alguma razão é, pois a partir do momento em que um cidadão entra no mercado de trabalho em desvantagem pela simples desvantagem de ter estado numa universidade pior do que outras(que são privadas e restritas a quem tem dinheiro para as pagar) tens mais possibilidade de eternizares uma elite da população no controlo do país, dos seus sectores e órgãos de influência. E assim se destrói a democracia.

O melhoramento e modernização do sistema educativo em Portugal faz-se através de mais investimento estatal e não menos.

NJRT disse...

*dos seus sectores produtivos

pedro romano disse...

«Curioso falares na Dinamarca, é que não só o ensino superior é gratuito como o Estado até dá dinheiro aos bons alunos para continuarem a estudar.»

Em Portugal também. A bolsa mínima cobre as propinas. Todas as bolsas seguinte constituem, de facto, um salário real à continuação dos estudos.

A diferença em relação à Dinamarca é que não é preciso ser bom aluno nem ter notas por aí além.

pedro romano disse...

«O problema das escolas privadas é que elas custam um balúrdio por mês a quem quer educar os seus filhos lá, mas devido ao enorme financiamento que estas instituições educativas recebem, têm mais capacidade de modernização e de proporcionar um melhor ensino aos seus alunos.»

O custo médio por aluno é igual tanto nas escolas privadas como nas escolas públicas. Em Portugal, aliás, o custo per capita até é um pouco superior nas segundas.

pedro romano disse...

«Agora, é uma questão de perguntar: quais são as famílias portuguesas que conseguem gastar 300 euros por mês para pôr 1 filho a estudar numa escola privada?»

Concordo contigo. De facto, é um escândalo que se tenha de pagar isso. É incrível que na escola pública o custo per capita seja de cerca de 5000 euros anuais.

pedro romano disse...

«E ao aplicares a privatização ao ensino superior, estás a criar um acesso à educação restrito a uma elite e o resto que teve o azar de andar em escolas menos reputadas entra logo a "perder" no mercado de trabalho.»

Ver caso da Nova Zelândia.

Hugo Monteiro disse...

"Eu não acho que a Esquerda seja sinónimo de controlo estatal da economia. As mais importantes ideologias de esquerda (Socialismo, Comunismo e algumas formas de Anarquismo) têm uma coisa em comum, o controlo das populações e dos trabalhadores dos meios de produção e distribuição da riqueza."

Sacaste isto, com certeza, de um livro de ficção.

Além disso, o anarquismo poderá ter mais a ver com a Direita, porque supõe máxima desregulamentação. Mas posso estar a patinar. Não tenho lido muito sobre isto.

Rui Afonso disse...

"Além disso, o anarquismo poderá ter mais a ver com a Direita, porque supõe máxima desregulamentação. Mas posso estar a patinar. Não tenho lido muito sobre isto."

Estás a patinar, sim. E basta leres mais um pouco sobre isto ou parares para reflectir para perceberes o porquê do patinanço.

Hugo Monteiro disse...

Existem anarquistas de Esquerda e de Direita.

Rui Afonso disse...

Quando um sistema não admite forma alguma de governo nem supõe, sequer, a existência de ideologias (daí alguns dos sinónimos de anarquia serem desordem, desorganização, confusão), não faz sentido falar em Direita ou em Esquerda. Fala-se em anarquia. E ponto.

Rui Afonso disse...

Apenas uma adenda, como complemento do comentário anterior:

"anarquismo, s. m., teoria política que preconiza a organização da sociedade sem qualquer governo estabelecido, fundada na convicção de que todas as formas de governo interferem na liberdade individual.

Coloquei a bold o cerne de tudo isto.

pedro romano disse...

«Quando um sistema não admite forma alguma de governo nem supõe, sequer, a existência de ideologias (daí alguns dos sinónimos de anarquia serem desordem, desorganização, confusão), não faz sentido falar em Direita ou em Esquerda.»

Não será bem assim. Por exemplo, o anarco-sindicalismo do século XIX tem uma matriz claramente de Esquerda. E até há quem diga que o marxismo desemboca naturalmente numa qualquer espécie de anarquia (o Estado era abolido, os trabalhadores ficavam livres, etc.).

E pela Direita há pelo menos os anarco-capitalistas, que admitem a possibilidade de empresas privadas fazerem a gestão dos recursos públicos. Ainda há mais umas correntes mas sinceramente não me lembro de quais.

Hugo Monteiro disse...

Há uma porrada delas.

Rui Afonso disse...

Tudo o que sejam correntes, Pedro, são anti a ideia original do anarquismo. Até nisto a palavra/ideia diz tudo. Não a correntes.