Naqueles dias eu queria crer que o meu pai se ressentia por eu passar tanto tempo com os Barceló. O livreiro e a sobrinha viviam num mundo de luxo que o meu pai mal podia farejar. Pensava que o aborrecia que a criada de don Gustavo se comportasse comigo como se fosse minha mãe e que o ofendia que eu aceitasse que alguém pudesse desempenhar esse papel. Às vezes, enquanto eu andava pelas traseiras da loja a fazer embrulhos ou a preparar uma remessa, ouvia um ou outro cliente gracejar com o meu pai.-O que o senhor tem de fazer, Sempere, é procurar uma boa rapariga, que agora o que mais por aí há são viúvas jeitosas e na flor da vida, o senhor bem me entende. Uma boa moça ajeita a vida a uma pessoa, meu amigo, e tira-lhe vinte anos de cima. O que um par de mamas não consegue...(...)-Quer dizer que eram amantes?-Você gosta mesmo de folhetins, hem? Olhe, eu na vida privada da Nuria nunca me meti, porque a minha também não é propriamente para emoldurar. Se um dia você tiver uma filha, bênção que eu não desejo a ninguém, porque a lei da vida é que mais tarde ou mais cedo nos despedace o coração, enfim, como ia dizendo, se algum dia tiver uma filha começará sem dar por isso a dividir os homens em duas categorias: os que suspeita que dormem com ela e os que não. Quem disser que não, mente com quantos dentes tem na boca.(...)Toda aquela reticência mudou radicalmente no dia em que Fermín Romero de Torres descobriu Carole Lombard.-Que busto, Jesus, Maria e José, que busto! - exclamou em plena projecção, possuído. - Aquilo não são mamas, são duas caravelas!-Cale-se, seu grosseirão, ou chamo imediatamente o empregado - resmungou uma voz de confessionário situada um par de filas atrás de nós. - Não querem lá ver a pouca-vergonha? Que país de porcalhões!-O melhor é baixar a voz, Fermín - aconselhei.Fermín Romero de Torres não me ouvia. Estava perdido no suave vaivém daquele decote milagroso, com o sorriso arroubado e o os olhos envenenados de tecnicolor.(...)-Não sei onde enfia isso tudo, Fermín.-Na minha família fomos sempre de metabolismo acelerado. A minha irmã Jesusa, que Deus tenha, era capaz de lanchar uma tortilha de morcela e alho francês e seis ovos a meio da tarde e depois portar-se como um cossaco ao jantar. Chamavam-lhe a Fígados porque sofria de mau hálito. Era igualzinha a mim, sabe? Com esta mesma tromba e este corpo serrano, bastante magro de carnes. Um médico de Cáceres disse-lhe uma vez que nós, os Romero de Torres, éramos do vínculo perdido entre o homem e o peixe-martelo, porque noventa por cento do nosso organismo é cartilagem, maioritariamente concentrado no nariz e no pavilhão auricular. Na aldeia confundiam muito a Jesusa comigo, porque a desgraçada nunca chegou a desenvolver peito e começou a fazer a barba antes de mim. Morreu de tísica aos vinte e dois anos, virgem terminal e apaixonada em segredo por um padre santarrão que quando se cruzava com ela na rua lhe dizia sempre: "Viva, Fermín, estás um homenzinho". Ironias da vida.
terça-feira, dezembro 28, 2010
A Sombra do Vento
segunda-feira, dezembro 13, 2010
Alheia Crónica III
Sobre nós mandam tanto a saúde e o dinheiro que temos, o sítio onde nascemos, o sangue que herdámos, os hábitos que aprendemos, a raça, a idade que temos, o feitio, a disposição, a cara e o corpo com que nascemos, as verdades que achamos; mandam tanto em nós estas coisas que nos dão que ficamos com pouco mais do que a vontade. A vontade e um coração acordado e estúpido, que pede como se tudo pudéssemos. Um coração cego e estúpido, que não vê que não podemos quase nada.Aí está a razão da nossa tristeza permanente. Cada homem tem o corpo de um homem e o coração de um deus. E na diferença entre aquilo que sentimos e aquilo que acontece, entre o que pede o coração e não pode a vida, que muito cedo encontramos o hábito da tristeza. Habituamo-nos a amar sem nos sentirmos amados e a esse sentimento, cortado por surpresas curtas, passamos a chamar amor. E com verdade. No mundo das ausências, onde a tristeza vem de sabermos muito bem o que nos falta, a nós e àqueles que nos rodeiam, a bondade, que nos torna vulneráveis aos sofrimentos daqueles que nos acompanham e nos faz sofrer duas vezes mais do que se estivéssemos sozinhos, é o preço que pagamos por não sermos amargos. É graças à bondade que estamos tristes acompanhados. Há uma última doçura em sermos tristes num mundo triste. Igual a nós.
Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'
terça-feira, novembro 23, 2010
Padrão
domingo, novembro 21, 2010
Apontamentos
Começou um novo ciclo, mas os desafios permanecem iguais. Para aqueles que se iniciam no meio académico, gostaria de deixar algumas palavras. Mas, antes de começar, quero agradecer aqueles que, em tempos idos, me legaram os seus conhecimentos adquiridos ao longo dos anos, professores, colegas, família e amigos. A todos, o meu muito obrigado. Foi um prazer.
A minha formação terminou. Mas a aprendizagem não. Longe disso. Ninguém pode ser arrogante ao ponto de dizer que não tem mais nada para aprender. É um exercício perfeitamente escusado estar a falar em casos específicos, não vou assumir que conheço as especificidades de cada curso ou o percurso de cada pessoa.
Quero apenas deixar algumas palavras para reflexão.
1. Somos uns privilegiados. Nunca os nossos pais e avós (principalmente as mulheres) tiveram as oportunidades que nós temos de estudar. Há apenas 50 anos, aproximadamente dois terços da população portuguesa não tinha qualquer nível de ensino (terminado a 4ª classe). Só para terem uma vaga ideia, os caloiros que estão a entrar para a universidade têm, em média, mais 10 anos de escolaridade (mais de metade das suas vidas) dedicados aos estudos do que estas pessoas. Vocês fazem parte de uma pequena elite de 15% da população que teve acesso ao ensino superior. Mas não se esqueçam que a vossa estadia também está a pesar nos ombros daqueles que não tiveram posses para pôr os seus filhos na universidade. Façam por merecer.
2. É importante encontrar um equilíbrio entre o ócio e os estudos. Não têm de passar os dias a estudar nem a destruírem-se. Cada coisa a seu tempo. É importante que aproveitem ao máximo esta fase da vossa vida para se instruírem. Tempos difíceis esperam o país e temo que o ensino superior não vá sair ileso. É provável que as
propinas aumentem, as bolsas diminuam e as vagas escasseiem. Não desperdicem tempo ou boas oportunidades.
3. Sejam exigentes. O ensino é um dos sectores onde os “clientes” são pior tratados, pagam muito, comem e calam. Se virem que não são instruídos como deve ser, se os planos curriculares ou métodos de avaliação não forem decentes, façam barulho. Têm o direito e o dever de o fazer.
4. Conheçam pessoas novas. Existe uma amálgama de gente diferente na universidade, de várias regiões, outros países, com diferentes costumes. Contactar e conhecer adiversidade irá dar-vos uma perspectiva mais abrangente do mundo plural em que vivemos.
5. Mantenham-se activos. Dentro e fora das aulas há sempre actividades, projectos e ideias à espera de alguém para lhes deitar a mão. Tudo o que vale a pena requer trabalho, nunca é demais repetir isto. E sejam pacientes. A paciência é o mais árduo dos cultivos. Mas é certo que também gera os melhores frutos.
Não se fiquem pela mediocridade pois esta é vossa rampa de lançamento para o futuro. Até agora isto foi a feijões. O jogo a sério começa a seguir. E o “a seguir” chega muito mais rápido do que imaginam.
Crónica publicada no ComUM Online.
sexta-feira, novembro 05, 2010
Quinto Aniversário
domingo, outubro 31, 2010
Alheia Crónica II
O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixonade verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há,estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.
Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Expresso'
quarta-feira, outubro 27, 2010
Nuovo Cinema Paradiso
Bem, finalmente, um dia, ele conseguiu falar com ela, e contou-lhe que não mais podia viver sem ela. A princesa ficou tão impressionada com a declaração do rapaz que lhe disse: “Se conseguires esperar 100 dias e 100 noites debaixo da minha varanda, ao fim desse tempo serei tua”. Deus! O soldado foi imediatamente para lá e esperou um dia. E dois dias. E dez. Depois vinte. E todas as noites a princesa olhava pela janela, mas ele nunca se mexeu. Fosse chuva, vento, neve, ele esteva sempre lá. Pássaros cagavam-lhe a cabeça e as abelhas picavam-no, não arredava pé .
Ao fim de 90 noites, ele estava completamente seco, pálido como um cadáver, lágrimas corriam-lhe pela face. Ele não se conseguia mexer. Ele já não tinha sequer força para dormir. E todo esse tempo a princesa observara-o. E na 99ª noite, o soldado levantou-se, pegou na cadeira, e foi-se embora.
Salvatore: Mas como? Mesmo no fim?!
Alfredo: Sim, sim. Mesmo no fim… E não me perguntes o significado disto, porque não faço ideia! Se descobrires a moral da história, diz-me.
(...)
Mais tarde, Salvatore conta a sua interpretação a Alfredo:
Salvatore: Se passasse mais uma noite, a princesa seria sua. Mas ela também podia faltar à sua promessa. E isso teria sido terrível. Ele morreria de desgosto. Assim, apesar de tudo, pelo menos durante 99 dias, ele viveu na ilusão que ela esteve ali à espera dele.
quinta-feira, setembro 30, 2010
Ensandeceram
3º- Criação do imposto sobre as grandes fortunas e retenção de 50% dos lucros das empresas que apresentem ganhos acima de um milhão de euros.
(...)
5º- Expropriação de todas as terras não produtivas e início da reforma agrária sobre os terrenos estatizados.
(...)
7º- Confisco de património sobre pessoas que a título individual tenham mais do que três propriedades móveis e imóveis para venda em hasta pública ou redistribuição pelos indivíduos produtivos que não tenham nenhuma.
(...)
9º- Não pagamento da dívida externa.
quinta-feira, agosto 12, 2010
Férias
Chegado de férias, prestes a voltar, metendo uma viagem de comboio grátis pelo meio, o blog tem estado meio parado. Talvez depois do regresso haja alguma animação. Até já.
sexta-feira, julho 09, 2010
Bons Argumentos
PaivamixIsso do defender, podes ver por exemplo nas gritarias, a ver quem berra mais, é bonito de se ver por acaso.
“Fomos (…) cantar o hino nacional em frente ao "aqui nasceu portugal" em guimaraes. Acho que isso é um momento bonito.”Passados mais de 30 anos desde o 25 de Abril, ainda vai parar gente a Caxias sempre que se canta o hino. Certamente que este Pedro deve desconhecer as associações de escutismo, caso contrário passaria os seus tempos livres a incendiar as sedes destes fascistas.
Eu não acho isto nada bonito, Acho isto um ímpeto nacionalista bacoco, com toques fascizantes. Salazar (que já foi para aqui referido várias vezes neste blog) é que sim, haveria de gostar destes comportamentos, característico de grupos do tipo Mocidade Portuguesa (MP).
terça-feira, junho 29, 2010
Regras que podem mudar o Mundo
segunda-feira, maio 24, 2010
Alheia Crónica I
É um género de magia
O mundo da atracção nunca cessará de maravilhar-me – e, entre as coisas que me maravilham nele, a mais maravilhosa é talvez o fascínio por mamas grandes. Pessoalmente, sou um homem de rabos. O rabo, sim, é pecado puro e simples. Já as mamas (eu talvez devesse dizer «seios», mas a palavra soa-me mal) são a maternidade na sua mais cabal acepção simbológica – e, embora não seja de excluir a existência de algum mistério em juntar o pecado e a maternidade numa mesma cobiça (eu também vi Donas de Casa Desesperadas, sei bem do que se trata), esta é uma coluna de respeito e, portanto, não estão autorizadas aqui misturas.
O que importa é que, segundo um estudo que leio numa daquelas revistas fúteis que de vez em quando não resistimos a compr… perdão, a ler no consultório do dentista, dois terços dos homens, ao cobiçarem uma mulher, olham-lhe primeiro para o peito e só depois para as nádegas. Daí que se aceite, de alguma forma, a obsessão de tantas e tantas mulheres, gordas e magras, ricas e pobres, de meia-idade e agora também jovens (e mesmo extremamente jovens), com a dimensão das suas «prateleiras», para usar uma expressão cara aos alarves que entretanto se assumem como público-alvo. O que é mais difícil de aceitar é a naturalidade, mesmo o desvelo, com que as mulheres que aumentam o peito desvendam o enigma.
Ainda no outro dia vi Vanessa Oliveira, uma jovem e belíssima manequim portuguesa, portadora de uns extraordinários olhos verde-água e de um vago ar surfista que só apetece raptá-la, metê-la numa cabana de praia na Austrália e pô-la a surfar só para nós, explicar tintim por tintim, nas páginas do Diário de Notícias, como decidiu aumentar os seios (pronto, vá, «os seios»), contactou médicos e fornecedores e ponderou métodos e dimensões até ir parar a umas mamas americanas que se implantam mesmo por baixo dos canais mamários e, portanto, lhe permitirão um dia engravidar, assim que lhe sobrevenha a vontade. E a estupefacção resume-se numa questão simples: mas, Vanessa, isso não devia ser segredo?
Porque, quer dizer, de que servem umas mamas grandes se, entretanto, toda a gente ficou a saber que tudo não passa de silicone, laser e costura à linha? Acaso, quando é elogiada pela sua bela dentadura, uma mulher se vira e informa: «Muito obrigado, mas é placa»? Porventura um homem a quem alguém elogie uma performance sexual respira fundo e suspira: «Muito grato, muito grato, mas não fui eu, foram os comprimidos»? Pois eu não vejo como os peitos postiços possam ser diferentes. Uns peitos postiços não podem ter outro desígnio senão despertar urgências de profanação ainda maiores. São uma ilusão. Ora, como todos sabemos, no momento em que o ilusionista desvenda o seu truque, a magia perde todo o encanto. E, ademais, ninguém quer profanar um pedaço de borracha.
Naturalmente, o que está aqui em causa é de novo uma questão classista, um arrivismo social, muito mais do que esta nova mania para que todos os mistérios do sexo, do desejo e das emoções em geral sejam manipulados e esclarecidos com a «maior das naturalidades». O que está em causa é estas senhoras e estas meninas poderem dizer à vizinha do lado, à colega da escola ou à ex-mulher do novo marido que elas, sim, têm dinheiro e desembaraço e mente aberta suficientes para se fazerem Firefox, procurarem aqueles doutores todos, inclusive os mais caros, e obrigarem-nos a transformá-las em monumentos à fecundidade, às capas de revista e aos filmes do canal Venus.
Pois só é pena que, como ainda há dias admitiu Carmen Electra, «actriz» norte-americana que no passado teve a infeliz ideia de adubar os seus peitos perfeitinhos, venham muitas delas a chorar o par de melões, na certeza de que, agora, tirar de lá a borracha, a gordura extraída do rabo ou o que quer que tenham posto por baixo dos canais mamários as deixará com dois sacos de plástico vazios ao peito, com graves consequências para a qualidade do bronzeado e, aliás, para o grau de sofreguidão do marido, do namorado e/ou vizinho da frente agora tão saudosos de fechar a mão em conchinha e poderem arrebanhar de um só golpe toda a sua fertilidade.
Enfim, restam-lhes os antidepressivos. O que vale é que esta indústria sempre soube adaptar-se aos imperativos da economia dinâmica. No mais, e como tara, não me pronuncio. O Denny Crane também andou dois episódios à procura de uma mulher com perna de pau – e, no fim, não se queixou de nada. Mas eu prefiro não ir por aí. Há alçapões na alma de um homem que é melhor não abrir.
sexta-feira, maio 21, 2010
Engenharia Social
Uma Experiência Socialista(recebido por e-mail – provavelmente ficção, mas não deixa de ser uma boa história)
Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que nunca reprovou um só aluno antes, mas tinha, uma vez, reprovado uma turma inteira. Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e ‘justo. ‘
O professor então disse, “Ok, vamos fazer um experiência socialista nesta turma. Ao invés de dinheiro, usaremos as suas notas nas provas”. Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e portanto seriam ‘justas. ‘ Isso quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém seria reprovado. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia um “A”…
Depois que a média das primeiras provas foram tiradas, todos receberam “B”. Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.
Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram ainda menos – eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto, agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos. Como um resultado, a segunda média das provas foi “D”. Ninguém gostou.
Depois da terceira prova, a média geral foi um “F”. As notas não voltaram a patamares mais altos mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela turma. A busca por ‘justiça’ dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Portanto, todos os alunos repetiram o ano… Para sua total surpresa.
O professor explicou que a experiência socialista tinha falhado porque ela foi baseada no menor esforço possível da parte de seus participantes. Preguiça e mágoas foi o seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual a experiência tinha começado. “Quando a recompensa é grande”, disse ele, “o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem o seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável.” (...)
terça-feira, maio 18, 2010
A Música e as Letras
Com muito atraso, aqui está a minha última crónica publicada:
Não é incomum ouvir algum músico jovem dizer que não canta em português. Atrevo-me a afirmar que serão uma boa maioria. Alguns dirão que estão mais habituados a ouvir música em inglês. Outros, mais ousados, gritarão aos sete ventos que é em inglês que sentem aquele “feeling”, aquela cena de artista.
Desengane-se quem acha que vou declarar o meu desprezo por estas pessoas. Pelo contrário, até acho que fazem muito bem. Afinal de contas, o risco de sair parolice se tentassem pela via lusa era muitíssimo superior. É um favor que nos fazem aos ouvidos.
Mas então, porque é que isto acontece? Porque é que a nossa língua é tantas vezes remetida para segundo plano?
Recordo-me de ter lido, em tempos idos, num artigo de uma revista estrangeira, uma frase bastante interessante. Cito de memória: “Em Portugal, considera-se quase um crime não escrever bom português”. Haveria aqui, claramente, exagero, não fosse o texto uma análise sobre três escritores nacionais. A verdade é que o português é uma “língua de doutores”, apesar de as pessoas não lhe darem o crédito que merecem. O nível de dificuldade, para fazer uma letra de uma canção decente, é extremamente superior à sua congénere anglo-saxónica.
Há dois factores que complicam, especialmente, os compositores portugueses: a falta de musicalidade natural da língua e a dificuldade em rimar sem soar forçado e/ou saloio. A nossa língua está cheia de palavras grandes em frases longas, complicando a métrica e os versos. A conjugação dos verbos também tem as suas particularidades, com os singulares às turras aos plurais, com os tempos metidos ao barulho. É preciso unhas para isto. É preciso garra.
Esta manifestação quase literária da música está patente naquela que é nossa criação musical mais conhecida, o fado. Quem alguma vez o cantou apercebe-se, rapidamente, que há algo deveras invulgar nele. Se precisasse de uma analogia para explicar a alguém o que é o fado, escolheria, sem dúvidas, o rally. As semelhanças são várias. É preciso dar muita mais atenção à técnica do que à força, preterindo a intensidade ao detalhe, ao ritmo. É difícil encontrar estilo em que as pausas façam tanta diferença.
Muito estudo e leitura são as duas componentes essenciais para escrever boas letras em português. E é preciso mais boa música portuguesa e em português. É que, para fazerem rimas no infinitivo à quadra antonina, mais vale investir em canas e anzóis.
PS: Para terem ideia de como os portugueses estimam o que é seu, comparem a quantidade de informação da página sobre Amália Rodrigues com a da Britney Spears, na Wikipedia em português.
Crónica publicada no ComUM Online.
quarta-feira, abril 14, 2010
Cultura Portuguesa e a Internet II
domingo, março 28, 2010
As coisas que inventam estes dias II
sábado, março 27, 2010
Como é que se ganham eleições?
domingo, março 14, 2010
Mingos & Os Samurais - Irmãos de Sangue
Abril de 1963
Carlos Tê / Rui Veloso
Ai as tardes nas matas
A folhagem por tapete
Tocando tamborim em latas
E a boca a fazer trompete
Subir pinheiro bela arte
Pintar o ándio na cara
Meia rota de estandarte
A flamejar na ponta de uma vara
Ai esse tempo
Quando o tempo era largo
Ai que doce o verde amargo
Correr solto nos velados
Ser tão ágil como o gamo
Ver a salamandra ao sol
E o pardal de ramo em ramo
Refrão
Eu sou comanche meio apache
Ele navajo e tu moicana
Faço a canoa e pesco o peixe
Tu és o lume da cabana
Pega nessa faca e faz um golpe
Põe o teu sangue no meu a jorrar
Eu juro trazer o escalpe
De quem roubar o sol do teu olhar
Refrão
quinta-feira, março 11, 2010
300º Post - Mingos & Os Samurais
Mingos & Os Samurais foi lançado em 1990, sendo o quinto álbum congeminado pela dupla Rui Veloso/Carlos Tê. Este trabalho é conceptual: conta a história de um grupo de amigos, de uma terriola para os lados do Porto, que formaram a banda que dá o nome ao álbum. A cereja em cima do bolo é a narrativa que acompanha o CD (ou vinil), descrevendo as peripécias dos nossos "heróis". Aqui fica a introdução:
300º Post - Mingos & Os Samurais
Mingos & Os Samurais foi lançado em 1990, sendo o quinto álbum congeminado pela dupla Rui Veloso/Carlos Tê. Este trabalho é conceptual: conta a história de um grupo de amigos, de uma terriola para os lados do Porto, que formaram a banda que dá o nome ao álbum. A cereja em cima do bolo é a narrativa que acompanha o CD (ou vinil), descrevendo as peripécias dos nossos "heróis". Aqui fica a introdução:
sábado, fevereiro 20, 2010
Os Sucateiros
Mais de 30 anos passados sobre o fim de regime, somos governados por uma trupe de sucateiros. Venha o Diabo e escolha.
terça-feira, fevereiro 02, 2010
As coisas que inventam estes dias
Bost eta Azaro 2.10 diz:
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LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
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Bost eta Azaro 2.10 diz:
damn
LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
hey
Bost eta Azaro 2.10 diz:
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but
LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
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Bost eta Azaro 2.10 diz:
yes?
LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
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Bost eta Azaro 2.10 diz:
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Bost eta Azaro 2.10 diz:
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Bost eta Azaro 2.10 diz:
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LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
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Bost eta Azaro 2.10 diz:
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Bost eta Azaro 2.10 diz:
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What color Panties do you think i should wear? i might have you favorite color here somewhere...
Bost eta Azaro 2.10 diz:
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Bost eta Azaro 2.10 diz:
bring me some Häagen-Dazs
LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
Ok let me know when you get in so I can invite you directly to my cam.
Bost eta Azaro 2.10 diz:
tell me
LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
try again sweetie...Hey just turned on the cam ill be wearing something very sexy just click here http://www.mywebcamcrush.com/Lookn4Him and accept the invite baby accept the invite on the page baby
Bost eta Azaro 2.10 diz:
ei, baby! merry christmas!
LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
u have to enter a cc, atm, or debit card so they can tell your of age, thats the ony way to see me sweety
Bost eta Azaro 2.10 diz:
I don't have one, dear
LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
k you in yet babe??
Bost eta Azaro 2.10 diz:
i don't have a credit card
I'm a hippie
LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
k
Bost eta Azaro 2.10 diz:
I talk trash about capitalism and such
LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
hey
Bost eta Azaro 2.10 diz:
what do you think of the Heidegger relationship with the nazis?
LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
i'm 21/f your a male right?
Bost eta Azaro 2.10 diz:
Heidegger's
manly male
LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
nice, I just got off work and finally got some time to relax which site did i msg you from again?
Bost eta Azaro 2.10 diz:
you're repeating yourself
LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
I am a little busy right now, trying to upload some new pics to my photobucket if ya wanna check them out go http://photobucket.com/LonelyLove89 tell me what ya think
Bost eta Azaro 2.10 diz:
sonhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaar
LarueSmayda5938@hotmail.com diz:
I know a way we can chat and have a better time.. do you cam?
Bost eta Azaro 2.10 diz:
xauzinho, jokax fofox
segunda-feira, janeiro 18, 2010
Cultura Portuguesa e a Internet I
domingo, janeiro 10, 2010
"Já fostes. Ardestes."
O Estado social europeu destruiu uma geração.